O futuro, a fronteira final… hein?

Numa reviravolta impressionante digna de nota, a Ficção Científica virou a mesa e decidiu dominar a televisão e os cinemas em 2017 e 2018. Diferentemente dos últimos anos, em que observamos o crescente número de filmes e seriados do gênero da Fantasia, temos a explosão do incrível número de adaptações de livros de Ficção Científica para a telinha e para a telona.

Como já disse a Wired no artigo Why Sci-Fi Novels Are the New Comic Books for Streaming TV, estamos com uma enxurrada de filmes de Star Wars a cada ano que passa, além de Star Trek chegar chegando em várias frentes com Discovery e os filmes recentes. Além disso, os novos players do mercado do entretenimento como a Netflix e a Amazon Prime Video têm investido cada vez mais no segmento, com novos títulos super elegantes disponíveis no streaming. Estes títulos seriados são todos adaptações de livros consagrados no meio, como Carbono Alterado (Richard Morgan), The Expanse (James S A Corey), O Homem do Castelo Alto (Phillip K. Dick), entre outros.

O artigo supracitado deixa uma abertura para a comparação destas nossas Propriedades Intelectuais (ou IP, de Intellectual Property, o novo jeito triste de falar das novas obras com um certo apelo mercadológico) com o sucesso que os quadrinhos tem sido para o mundo do cinema, vide a igual enxurrada com títulos da Marvel e da DC. Todos aqui sabem que sou colecionador de HQs desde o nascimento de Genésio Cristo, mas que detesto os filmes baseados em quadrinhos lançados por aí. Tal comparação me deixa um pouco apreensivo.

Antes que vocês comecem a jogar as pedras, gostaria que entendessem o meu ponto. Estamos vivendo há alguns anos a febre das continuações cinematográficas, impulsionada em grande parte pelos filmes baseados em quadrinhos. Já estou conformado que meu neto vai acabar assistindo Wolverine 57 logo depois de Batman versus Superman versus Mundo 13, mas essa inflação de filmes do gênero não tem sido nada saudável para o cinema.

Como já apontado por alguns especialistas do mundo do cinema, tais produções, apesar do sucesso estrondoso na bilheteria, não conseguem arrecadar um lucro satisfatório diante dos gastos igualmente estrondosos nos efeitos especiais. Para piorar, parece que vivemos numa crise de criatividade roteirística, visto que não precisa de muito malabarismo narrativo para matar (ou ressuscitar) o Superman. De novo. Diante deste quadro desanimador de uma indústria sedenta pela grana, temos ainda o aproveitamento de quadrinhos totalmente desconhecidos para produzir filmes repletos de explosões e etc. Cof Guardiões cof da Cof Galáxia!

Star Wars, Star Trek, Alien, Blade Runner, todos foram vítimas do movimento suga-cérebro. Mas não me entendam mal, adorei os novos Star Wars e spin offs! Rogue One está no meu coração! Mas convenhamos, são também fruto dessa crise de ausência de massa encefálica no cinema. As tais IPs são vistas como cifrões pela indústria e, como naquele velho ditado futebolístico, em time bom não se mexe e, justamente, não devemos mexer nas fórmulas que deram certo.

É justamente esse o meu receio com os novos seriados de Ficção Científica. Estou ansioso por Snow Crash (Neal Stephenson) a ser lançado, estou assistindo Carbono Alterado, estou revendo The Expanse e logo mais começarei O Homem do Castelo Alto e Deuses Americanos (Neil Gaiman)! Contudo, rezo aos deuses e deusas que este movimento escapista (?) fabuloso não seja cooptado pela lógica Disney de mercado. Sei que vou dar com os burros n’água, mas lá se vai o meu desabafo.

Nesse movimento cíclico (em que, no momento, a Fantasia parece estar em baixa), espero não ver a indústria cinematográfica e televisiva ferrando de vez a já ferrada indústria editorial, como já disse neste artigo. Só espero que, ao se debruçarem sobre obras renomadas da Ficção Científica como estão fazendo, aprendam com o movimento sobre o melhor que a Ficção Científica pode oferecer, que é proporcionar uma reflexão inteligente sobre os problemas do presente.

Victor Hugo Kebbe, l’editeur

 

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