Arte de Marc Simonetti, New Crozubon.
Fico feliz em saber que tem um pessoal que me acompanha atentamente nas sugestões de leitura de Literatura Fantástica por aqui. Como bem sabem, este é o carro chefe do Ao Sugo desde 2008, com duas editorias inteiras dedicadas ao assunto, Ithildin e Despertar, ambas com várias recomendações legais. Eis um upgrade para 2015, aproveitando a ocasião para sugerir como ampliar as vossas bibliotecas neste Natal.
Estamos presenciando a explosão do gênero (se é que podemos falar em gênero) no Brasil, em grande parte pela chegada de inúmeros livros de literatura fantástica norte-americanos do pacotão BCF (Big Commercial Fantasy), títulos de alta tiragem e que correspondem a uma grande parcela da produção livreira nos Estados Unidos (e fora, of course). Apesar de serem títulos que estão frequentemente nas listas dos Mais Vendidos do New York Times, BCF não é sinônimo de “bom”, o que já foi discutido por aqui.
É lógico que muita coisa boa aparece aqui e ali e essa listinha traz algumas coisas novas (algumas nem tanto), tendo sido mais difícil do que a lista de 2014. Os Top 3 não são facilmente comparáveis, logo, ignorem o “ranking” e partam logo para a leitura. Vamos lá.
Arte de KalaNemi, Mists of Earthsea, 2012.
5 – The Daughter of Odren, de Ursula K. Le Guin – Eis um título recém-saído do forno, lançado agora em outubro de 2014 como Kindle Single, o que por si só já merece um debate, dada a luta de Le Guin contra a Amazon. Parte do Ciclo Earthsea, A Filha de Odren é um conto de 31 páginas (sim, curtinho, pra você que é preguiçoso) e uma excelente porta de entrada para a Literatura Fantástica. Nem preciso falar muito, dado status de Le Guin como uma das poucas que realmente contribuíram com o panorama da Fantasia e Ficção Científica, sendo uma excelente escritora que trabalha com temas profundos escondidos na narrativa. Neste, que é bem mais light, o mote principal é a vingança de Weed contra… oras, leia.
Arte de Yi Ming Xuan, 2011
4 – Xi You Ji, de Wu Cheng’en – Na lista anterior eu selecionei Bridge of Birds como o número um de 2014, principalmente pela ousadia e originalidade de trazer uma China-que-nunca-foi para um mercado tão contaminado por elfos malfeitos, anões sem sal e dragões repetidos. Bridge of Birds foi baseado em Xi You Ji, a famosa Jornada para o Oeste, narrando primeiramente as aventuras do Rei Macaco Sun Wukong e depois a jornada épica do monge budista Xuanzang para a Índia em busca dos sutras sagrados. O livro entrelaça uma narrativa super aventureira com mitologia chinesa, cujos obstáculos, vilões e inimigos são dignos de nota, sem contar o senso de humor… particular… do Rei Macaco para resolver algumas questões. Obrigatório.
Fotografia de Jennifer (Along the way), House on the Rock, 2012.
3 – American Gods, de Neil Gaiman – Novamente temos o retorno de Neil Gaiman para essas listas, porém, dessa vez como O Melhor Livro Que Já Li Do Homem. De seus livros mais famosos, Coraline, Neverwhere, Stardust, The Graveyard Book, The Ocean at the End of the Lane e Good Omens: The Nice and Accurate Prophecies of Agnes Nutter, Witch, American Gods traz com muita elegância as sofisticadas discussões que ele sabia fazer tão bem em Sandman. O livro apresenta um cruzamento inteligente de várias mitologias, sobrepondo umas às outras, me lembrando em vários momentos de Fionavar Tapestry, porém, com o toque de Midas de Gaiman. Excelente pedida, ainda mais se você está um pouco cansado de elfos e dragões.
Arte de Marc Simonetti, The Name of the Wind, 2009.
2 – The Name of The Wind, de Patrick Rothfuss – Retornando para um mundo fantástico mais “conhecido” (ou esperado) dos leitores, temos o primeiro de três volumes d’A Crônica do Matador do Rei, agora em alta por conta do lançamento recente do spin off The Slow Regard of Silent Things. O título narra as aventuras do jovem Kvothe na sua formação de mago e trovador, contudo, o que marca mesmo é a escrita de Rothfuss, uma das coisas mais prazerosas que vi nos últimos tempos. Rothfuss escreve com esmero, fugindo daquele ról de escritores dos famosos page turners que chegam a insultar a inteligência do leitor. Vale a pena ler, agora com versão em português pela Arqueiro.
Arte de Justin Oaksford, New Crobuzon, 2011.
1 – The Scar, de China Miéville – Definitivamente a melhor leitura que tive no ano, agora introduzindo aqui no Ao Sugo um escritor que pega essas categorias como “Fantasia“, “Ficção Científica” e derivados e coloca no liquidificador, nos mostrando o quão ficamos reféns destes gêneros de mercado, pouco abertos para novos imbricamentos e novos entrelaçamentos narrativos. É o segundo livro do arco Bas-Lag, contando a aventura – desgraçada – da linguista exilada Bellis Condwine na Armada, uma ilha flutuante governada por piratas que se opõem à opressão das nações e cidades-estado como Nova Crobuzon. Na Armada são todos homens livres, contanto que não deixem os limites da “ilha”, uma maluquice sem tamanho que, como vai percebendo Bellis, faz todo o sentido. Acredito que esse livro é para aqueles que já curtem Fantasia e estão dispostos a novos desafios, dada sua ousadia e fuga constante do senso-comum.
Victor Hugo Kebbe, fantasioso editor do Ao Sugo












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