Eis um artigo exclusivíssimo para o Cabaré das Ideias (calma leitores do Ao Sugo que logo, logo vocês poderão ler o artigo lá também) que fiz pensando para meu grande amigo Ben Hazrael. Como todos sabem, somos não só parceiros blogueiros, mas também nerds por vocação, o que não é bolinho não. Apesar de todos acharem que está em alta ser nerd nos dias de hoje, poucos são os nerds de verdade em meio a tanto maluco modista por aí.
Ser um requisito da Velha Guarda ou para fazer parte da verdadeira Aliança Rebelde é preciso ter um gosto apurado para nerdices que vão além de meia dúzia de zumbis malfeitos ou 50 episódios do Nerdcast no iPod. Tais gostos só se expressam de maneira genuína depois de muitos e muitos anos de prática e dedicação, sendo um deles, o de ser trekker.
Trekker ou Trekkie (eis um termo bastante polêmico) é aquele que é verdadeiramente aficionado por Jornada nas Estrelas. Assistir um ou outro episódio não lhe dá a carteirinha para entrar neste seleto rol de pessoas elegantes (e algumas malucas também, reconheço). O Trekker legítimo é aquele que já viu TUDO o que foi feito de Jornada e quase sempre sabe o nome de todos os episódios de pelo menos uma série da franquia. Enciclopedistas? Não, elegantes e devotos, dedicados a um hobby bastante único e que mantém adeptos em toda a Via Láctea.
Calma, não estou pedindo para ninguém aqui se transformar em trekker (aliás, quero distância, já chega eu…). Contudo, vai por mim, Jornada nas Estrelas é uma coisa bem, mas bem legal e que desde 1966* vem conquistando fãs pelos quatro ventos. Caso você ainda não tenha se dado conta, se fosse algo ruim, não existia assim por tanto tempo, não é? Eis 5 razões excelentes para conhecer Jornada nas Estrelas.
5 – Roteiros inteligentes: ao contrário de muitos seriados televisivos atuais, que primam por estratégias narrativas específicas para “fisgar” o telespectador pelo medo, susto ou pela criação de expectativas em ganchos sem solução, os roteiros de cada episódio de Jornada nas Estrelas são pensados como que em filmes individuais, com um começo intrigante, um meio excelente e um final fantástico, sempre propondo discussões profundas dentro não só da Filosofia, mas também de Política, Sociedade, Cultura, etc. Ao contrário de episódios cheios de ação que requerem a atenção e inteligência de uma noz, Jornada nas Estrelas obriga o telespectador a pensar (e vai ver é por isso que não é todo mundo que curte).
4 – Universo gigantesco: Jornada nas Estrelas é a maior franquia já criada dentro da ficção científica e da televisão. Em atividade desde 1967, todo o universo criado por Gene Roddenberry é construído e delicadamente burilado até os dias de hoje. São 5 seriados de sucesso, mais de uma dezena de filmes (ainda em produção), jogos, quadrinhos e mais de 200 livros contando as aventuras do ser humano pela Galáxia Conhecida. Jornada nas Estrelas mantém um seleto rol de culturas fictícias criadas e estudadas com afinco, idiomas como o Klingonês e até mesmo um cardápio de pratos culinários exóticos.
3 – Respeitabilidade: apesar do excesso de jargão técnico tão típico da ficção científica, além da morosidade dos episódios de Jornada versus os tradicionais seriados de ação, Jornada nas Estrelas levou grandes cientistas para o mundo da televisão, dentre eles Stephen Hawking e Isaac Asimov, apreciadores incondicionais dos seriados. Para quem não sabe, Hawking já participou de um episódio, enquanto Asimov foi consultor científico em tempos dos filmes. Jornada nas Estrelas inspirou um número sem fim de pesquisadores em todo o mundo, até que grande parte do staff da NASA diz ser fã das viagens da Enterprise. Aliás, o respeito por Jornada nas Estrelas lá é tão, mas tão grande, que um dos ônibus espaciais mais famosos da Agência Aeroespacial Norte-Americana foi nomeado “Enterprise”, sendo inaugurado pela tripulação da Série Clássica (1967-1969). Não, nem preciso dizer que foi Martin Luther King que convenceu a atriz Nichelle Nichols a permanecer no papel de Uhura no seriado, representando a primeira mulher negra numa ponte de comando de um seriado televisivo.
2 – Humanidade: dentro da ficção científica Jornada nas Estrelas consolidou como ninguém a ideia de um futuro positivo, em que resolvemos a grande maioria dos nossos problemas sociais. Não existe dinheiro no futuro, assim como não existem doenças e nem pobreza, levando todos a pensarem a vida intergaláctica de um modo diferente. Por incrível que pareça, foi ao se livrar destes marcadores tão característicos da nossa sociedade que fez Jornada nas Estrelas discutir a Humanidade em um nível mais elevado: seus episódios não são sobre alienígenas, sobre naves espaciais, planetas distantes e guerras intergalácticas, mas sim sobre nós, sobre as pessoas e como elas lidam umas com as outras.
1 – Ficção Científica de excelente qualidade: Jornada nas Estrelas fez e faz tanto sucesso por transportar para o formato televisivo uma ficção científica de qualidade primorosa. Efeito entropia, viagem no tempo e realidades paralelas já vinham sendo apresentadas para o público leigo desde a Série Clássica (1967-1969), ganhando peso em Jornada nas Estrelas – A Nova Geração (1987-1994). Jornada nas Estrelas tornou possível a discussão de vários temas profundos dentro da Filosofia e sobre o estatuto da Humanidade na televisão, indo onde ninguém jamais esteve.
Comandante Victor Hugo, diretamente da USS Ao Sugo
* Agradeço a contribuição do nosso leitor Ivogrunge pela correção da data!
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