
Uma coruja. Um unicórnio. Uma pomba branca. Esses três animais aparecem em Blade Runner. E são a sua essência, pois representam*, respectivamente: o conhecimento racional e a morte; a pureza e um jogo divino chamado existência; o amor e o que o homem tem de eterno ─ sua alma.
Los Angeles, 2019. O clima é sombrio; a chuva, incessante. Lixo, fogo e fumaça estão por todos os lados. A destruição e o abandono são evidentes e demonstram o mal que nós, seres humanos, fizemos ao nosso planeta. Pessimismo? Talvez mais do que isso: constatação.

Estamos no futuro. Contudo, paradoxalmente, voltamos à escravidão. O homem cria andróides para um serviço sujo e perigoso: explorar e colonizar outros planetas. Algumas dessas máquinas têm características semelhantes e até superiores às da maioria dos seres humanos. No entanto, falta-lhes a principal delas: a capacidade emocional. Mas isso pode ser resolvido, porque as emoções podem ser aprendidas. Há, porém, outra dificuldade ── esta, sim, terrível: o curtíssimo tempo de vida desses andróides. Tempo, tempo, tempo, tempo…
Por isso, eles decidem invadir a Terra. Estão em busca desse tempo que lhes foi negado. Querem mais vida. Exigem mais vida. Os andróides são seis. Dois morrem. Sobram quatro: Roy (Rutger Hauer), Leon (Brion James) e as deliciosas Zhora (Joanna Cassidy) e Pris (Daryl Hannah). Além deles, existe Rachael (Sean Young, igualmente deliciosa), que não sabe exatamente o que é. Andróide? Ser humano? Ambos?

Deckard (Harrison Ford) é o policial encarregado de “retirá-los” do caminho. Motivo: os andróides não podem habitar o nosso planeta. Até aqui, tudo bem ── afinal de contas, ele é pago pra isso. Entretanto, Deckard apaixona-se por Rachael. Eis o problema. Agora, ele tem diante de si a coruja, o unicórnio e a pomba branca. Não os animais, mas o que estes representam, seus símbolos. O que fazer, Deckard? As questões pedem respostas. E o tempo é reduzido.
Blade Runner é considerado por muitos especialistas o melhor filme de ficção científica já realizado. Isso não é pouco, contudo ele é certamente ainda mais do que isso. É, sem dúvida, um dos cinco melhores filmes de todos os tempos, independentemente de gênero. A maravilhosa trilha sonora de Vangelis, as imagens futuristas (hoje, meio retrôs, porém ainda assim extremamente belas), os figurinos ousados, o roteiro inteligente e as atuações impecáveis fizeram dele um clássico: exemplar: perfeito. Rigoroso e harmonioso.

Foi dirigido brilhantemente pelo inglês Ridley Scott em 1982. Embora o título remeta à idéia de ação, é um filme reflexivo e enigmático. Tudo nele parece ser contido, reprimido. Mas no fundo tudo nele é exuberante, há um transbordamento de belezas e de emoções.
Blade Runner é uma das mais delicadas, sensuais e trágicas histórias de amor do cinema.
Paulo Jacobina
Sessões
* Excertos do Dicionário de Símbolos ─ de Jean Chevalier e Alain Gheerbrant ─ 20ª edição, Editora José Olympio.
Olá nobres leitores do Ao Sugo. Hoje apresentamos a vocês um texto excelente de Paulo Jacobina do blog parceiro dedicado ao cinema, Sessões, na esperança de podermos oferecer aos leitores de ambos os blogs, o Ao Sugo e o Sessões, uma enorme variedade de textos e o mais importante, reflexões qualificadas sobre cinema, literatura e tudo mais. Para os leitores interessados em se aprofundar das problemáticas trazidas pelo texto do Paulo, não deixem de visitar o Portão de Tannhauser, nosso espaço exclusivo de discussão do Movimento Cyberpunk. É hora de ler.Victor Hugo
Artigo publicado com autorização do blog Sessões, podendo ser acessado também pelo link http://sessoesdecinema.blogspot.com/2010/01/blade-runner.html.






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