Lembram-se do He-Man, aquele homenzarrão loiro que bradava sua espada sob os poderes de Grayskull? É, isso passava nas manhãs da Globo no Xou da Xuxa, na TV Colosso e, segundo dizem, passou por uns tenpos na TV Record, contando as histórias do herói de Eternia em combate constante contra Esqueleto e seu séquito, Maligna, Mandíbula, Homem-Fera, todos habitantes da Montanha da Serpente…
Bem, isto fez, felizmente e infelizmente, parte da nossa infância. Bastava o Príncipe Adam farejar o perigo que ele se transformava no tal do He-Man, a mesma coisa que o Adam, porém mais bronzeado e com menos roupa segundo o Marquinhos (é, umas botas e uma tanguinha felpuda). Aí ele tinha o Pacato, um gato super desenvolvido e talvez com problemas hormonais que, quando atingido pelos poderes de Grayskull, virava o Gato Guerreiro, o mesmo Pacato de antes só que agora com um chassi meio de moto meio de Fusca por cima e com uma voz mais grave. Aí teve até filme (?) em 1987, He-Man and the Masters of Universe com o Dolph Ludgren e a Courtney Cox-Arquette, isso, a Monica Geller do Friends… Péssimo, não?
Eu sei, péssimo. Mas eu assistia essa coisa assim como todos os meus amigos (e amigas da época, não me venham com esse papo que isso era coisa de menino: o Príncipe Adam era “maninho” da Adora/She-Ra… Adam, Adora… aqui podemos perceber até onde a falta de imaginação pode chegar… anyway) e aqui em casa tínhamos dois bonecos do He-Man, um meu e um do meu irmão. Sucesso total. Tínhamos também aquele tanque do Mentor (praticamente o Tom Selleck de Magnum P.I. com um capacete soldado na cabeça e um babador/recipiente incorporado na armadura dourada) e o Aríete (aquele homem troncudo que quebrava as coisas com a cabeça). Dois He-Man. He-men? Dois.
Bom, voltando à conversa que tive com o Marcus, não é que a animação de He-Man (e toda sua ladainha posterior) foi criada pela Filmation Studios sob encomenda da Mattel, responsável também pela produção dos bonecos para o filme Conan, O Bárbaro? Iiiiisso, surpreendente, não, estávamos aqui falando do Conan no Ao Sugo e descobri que o He-Man foi criado pelo Conan… Como assim? Pois bem, muito violento para a criançada (como disse no artigo do Conan, o diretor John Milius adorava decapitações e muitas batalhas sangrentas), o boneco de brinquedo do Conan poderia não ser muito bem visto pelos papais e mamães que nos compravam essas coisas no Natal, aí a Mattel, para não perder parte da produção já feita, encomendou o desenho He-Man.
A informação foi um choque. Primeiro que 1) como poderiam ter vetado um boneco do Conan? No filme Conan, O Destruidor ele já não sai por aí cortando cabeças e está até mais quietinho, aliás, filme que passou n-vezes na televisão aberta e em horários bem familiares? E, pior ainda, 2) como criaram He-Man, um desenho horrível a partir dos refugos de Conan? Impressionante, não?
Bem, tive dois bonecos do He-Man e assistia o desenho de manhã. Ficava bastante surpreso pela quantidade de detalhes e esmero dos desenhistas em mostrar todos os músculos se mexendo do paladino de Eternia quando corria em contraposição ao reaproveitamento de celuloide dos cenários de fundo (afinal, vocês acham que ele corria tanto assim como?), mas gostava do negócio, ainda não entendo muito bem o por quê. He-Man dividia espaço com She-Ra, Thundercats, Silverhawks e até aquele primeiro Caça-Fantasmas desenhado e animado no Japão (aliás, não se iludam, Thundercats e Silverhawks também, pela Pacific Animation Corporation, uma espécie de cooperativa de estúdios de animação japoneses) e G.I. Joe, ou melhor, Comandos em Ação. Aí assistíamos isso tudo e, bem, olha no que deu: um marmanjo aqui que prefere Conan, O Bárbaro.
Eis que tudo não passa de lorota ou lenda urbana, como bem apontou um dos leitores do Ao Sugo, Edek Kowalewski. Vamos esmiuçar. Na nova série de documentários da Netflix, Brinquedos que Marcam Época, após recusar lançar a série de brinquedos de Star Wars em 1976 (o prêmio ficou para a Kenner Toys), os executivos da Mattel (arrependidos?) buscavam por uma nova propriedade intelectual para fazer frente ao mercado infantil. O designer de brinquedos Mark Taylor decidiu então mesclar algumas inspirações para criar um herói viril e marcante para a década vindoura.
Com uma fusão maluca de um homem cro-magnon com vikings, surgia os primeiros esboços deste novo personagem, musculoso como só, que viveria no fantástico mundo de Eternia e tudo mais. Porém, foi Roger Sweet, outro projetista da Mattel, que materializou o personagem, aplicando várias camadas de argila sobre um boneco Big Jim para formar os músculos do homem e pronto, isso no fim de 1980 e, portanto, dois anos antes do filme de Conan, O Bárbaro. Mas e a confusão?
A Mattel seria a empresa contratada para produzir os brinquedos de Conan, O Bárbaro, em 1982, período em que He-Man também aparecia no mercado pela primeira vez, logo, daí a confusão. É claro que isso não ficou barato. a Conan Properties International, a empresa que agencia as licenças do bárbaro pelo mundo afora, acabou processando a Mattel pela notável semelhança entre o boneco do He-Man com o corpo cabuloso de Arnold Schwarzenegger, mas acabou perdendo essa na justiça. He-Man tinha sido criado antes do filme e veio para ficar. Além do documentário da Netflix sobre o bárbaro loiro, isso tudo também pode ser lido no livro Mastering the Universe: He-Man and the Rise and Fall of a Billion-Dollar Idea, de 2005, escrito pelo próprio Roger Sweet em parceria com Wecker David. Vale a pena.
Victor Hugo Kebbe, esperando por Crom
Veja também: Eu tenho a força!
Se não leu, leia agora nosso artigo sobre Conan aqui no Ao Sugo.
Conheça o livro Mastering the Universe: He-Man and the Rise and Fall of a Billion-Dollar Idea, escrito por um dos projetistas do He-Man.
Assista agora ao episódio sobre He-Man de Brinquedos que Marcam Época, no Netflix.






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