Anjo Negro

Lembro-me que quando estava lendo The Making of Star Wars: The Empire Strikes Back, de J.W. Rinzler, me deparei com um arremedo de informação que me deixou com a pulga atrás da orelha por dias, isso lá no início de março de 2015. Neste livro gigante, encontro a informação que Império foi lançado com um outro filme, até então um curta e já clássico do gênero da Espada e Magia chamado Black Angel.

A história por trás do filme é simples. George Lucas queria lançar o Império juntamente com um curta e, preferencialmente, de alguém de sua equipe. Para tanto, ele acabou escalando a proposta de seu diretor de arte, Roger Christian, sobre um curta de fantasia medieval, no melhor estilo de Espada e Magia ou, como dizem por lá, Sword & Sorcery. O curta contava com algumas técnicas de filmagem que foram desenvolvidas para o Império e acabou virando um hit entre os fãs norte-americanos, já que jamais vimos esse título aqui no Brasil.

Eis que em 2015, dias depois de eu terminar a leitura daquele tomo de Making Of, o próprio Roger Christian consegue relançar Black Angel, exclusivamente para o YouTube. Restaurando a filmagem original, esta encontrada nos estúdios da Universal, Christian traz a sua obra, bastante emblemática e de arte primorosa, para todos que quiserem assistir.

O que eu gosto – demais – desse filme é a arte em si, que evidentemente está em meio ao estilo de filmes de fantasia da década de 1980, como Excalibur (1981), Conan, O Bárbaro (1982), Conan, o Destruidor (1984), A Lenda (1985), O Feitiço de Áquila (1985) e Labirinto (1986). Nestas produções, que não contavam com os efeitos especiais atuais e o auxílio da arte digital, a limitação técnica, aliada na maioria das vezes à falta de dinheiro, acabava promovendo vários lampejos de criatividade, tornando tais filmes mais verossímeis do que muita coisa por aí.

Muitos destes filmes tinham outras preocupações quanto à estética apresentada, o que difere radicalmente da “ultra realidade” que é almejada nas produções contemporâneas como a sujeira e a miséria que deveria ser ao viver na tal da Idade Média. Roupas encardidas e acabadas, pessoas sujas, dentes podres, cabelos desgrenhados e construções que só estão em pé por algum tipo de milagre são algumas das características presentes em qualquer produção de fantasia atual, como Senhor dos Anéis (2001), Game of Thrones (2011 – ), Vikings (2013 – ), The Last Kindgom (2015 – ), Cruzada (2005), Robin Hood (2010), etc., afastando de vez qualquer possibilidade de contato da nossa humanidade próspera e cristalina de um passado sombrio.

Contudo, como já disse aqui em outra oportunidade, a grande maioria destas representações são apenas representações, incrivelmente estereotipadas e que não condizem com os registros históricos. Ian Mortimer, Barbara Tuchman, entre outros pesquisadores, mostram por A mais B que de sujos e miseráveis os nossos camaradas da Idade Média não tinham nada, algo igualmente verificável nos mais variados estratos sociais… Apreço pela higiene, por exemplo, era algo quase que paranoicamente observado tanto entre os ricos quanto os pobres, pelas mais variadas razões. Limpeza, higiene e o medo de feitiços deixavam as roupas e as casas impecáveis, entre tantas outras coisas que já não cabem mais neste texto. No final das contas, aquelas produções de fantasia medieval da década de 1980 tinham mais acertos do que erros.

Acho que é por isso que, sempre que me deparo com esses títulos – filmes e livros de fantasia da década de 1980 – acabo sendo tomado pela nostalgia. Descobrir um filme como Black Angel é como descobrir um episódio inédito da sua série favorita já há muito encerrada, portanto, aproveitem. Com vocês, Black Angel.

Victor Hugo Kebbe

 

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