Assopra o cartucho que vai

Meu primeiro videogame, mas assim, o primeirão mesmo, foi um Atari 2600, um console que foi lançado nos EUA em 1977 e que chegou ao Brasil em 1983. Nem precisaria dizer que nem lembro quando foi que este videogame chegou à minha casa, todavia, foi o responsável por algumas boas horas semanais de diversão eletrônica.

A era de ouro dos games para mim e meus irmãos foi, realmente, quando ganhamos um Sega Mega Drive, lá por 1991. Para quem vinha do Atari, como a gente, a mudança de gráficos quadrados e vetoriais para um sistema de 16 bits era fenomenal. Parte da quarta geração dos jogos eletrônicos, foi lançado em 1988 no Japão, 1989 na América e 1990 na Europa. Nos EUA, ele apareceu com um nome diferente: Sega Genesis. Lembro-me dos primeiros jogos que alugamos: Last Battle e Moonwalker.

O Mega Drive foi o primeiro grande alívio da Sega, que havia sido muito afetada pela crise dos games de 1983/84. Esta crise foi causada por uma supersaturação de consoles nos países de língua inglesa. A maioria deles, como deve-se suspeitar, de qualidade questionável. A crise causou muitas falências e vendas, como da própria Atari, e mesmo a Sega teve de fazer fusões e acordos para não fechar as portas. Muitos, inclusive, profetizaram que os videogames acabariam por ali mesmo.

O novo console da Sega veio para competir diretamente com o Nintendo Famicon, de 8 bits. Com o dobro do processamento, o Mega Drive tinha uma capacidade gráfica e de sons muito maior que seu concorrente, e foi um grande sucesso particularmente em locais de difícil acesso da Nintendo, como a Europa e o Brasil. Sucessor do Master System, ele buscava abocanhar o público que seu antecessor perdia diariamente para os lançamentos da Nintendo. Boa parte por simples questão de marketing: o da Nintendo era bom e o da Sega era ruim.

Entretanto, em meio a todo este burburinho, faltava aos concorrentes do Mario um representante, um ícone tão simbólico quanto o encanador italiano que angariava legiões de crianças fanáticas. Ao contrário da Nintendo, a Sega possuía apenas uma mascote não-oficial, Alex Kidd, muito presente em jogos do console Master System. Entre os fãs, a Sega ainda não tinha uma “cara”, um assessor eficiente, enquanto a sua direta concorrente apresentava não só o Mario, como o Link, da série Zelda.

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A mudança viria em 1991. Em junho deste ano, a Sega distribuiria um de seus cartuchos mais importantes. Sonic the Hedgehog introduzia ao mercado um dos personagens mais reconhecidos de todos os tempos da indústria. O protagonista, que dava nome ao jogo, era um porco-espinho azulado e antropomórfico de 15 anos. Suas principais habilidades são sua velocidade, dito mais rápido que a velocidade do som, sua capacidade de dar grandes saltos e de se encolher numa bola azul, célere e cortante, além de ser incansável na luta contra o maligno Dr. Robotnik. Sua criação é creditada ao artista conceitual Naoto Oshima, ao designer Hirokazu Yasuhara e ao programador Yuji Naka. Todos eles eram parte do que mais tarde seria conhecido, dentro da Sega, como Sonic Team. A aparência do personagem, azul (para relembrar a cor do logo da Sega) e com cabelos espetados e tênis de corrida, reforçava a idéia de celeridade que construía o jogo. O primeiro codinome de Sonic foi Mr. Needlemouse.

O sucesso foi praticamente imediato. Para isso, a Sega apostou em mais que um design “bonitinho”, como era costume (e ainda é) nos games e design japoneses. A ideia principal em Sonic era pescar, novamente, os gamers antigos que estavam crescendo. Enquanto Mario dominava o público infantil, Sonic conseguia fanáticos ao redor do globo que haviam acabado de entrar na adolescência ou já estavam no meio dela. O carisma de Mario era transformado em velocidade e entusiasmo em Sonic, e mesmo com a jogabilidade simples, o game atraiu muita gente. Sair correndo, pulando e dando loopings era, para ser direto, extremamente divertido.

Vale falar também sobre a personalidade de Sonic. Carrancudo e com um quê de rebeldia, o personagem era uma epítome do comportamento adolescente, sem perder a graça e sem deixar de ser muito divertido. Caso o jogo fosse largado parado, sem fazer nada e sem “pausá-lo”, não custava tempo ao protagonista encarar a tela com olhar de desaprovação, bater o pé de forma ansiosa e negatória. Irreverente, Sonic aproximava-se do caráter insurgente dos adolescentes do início da década de 90. E como encarnava várias características de virtude questionável, ele pode ser considerado o primeiro grande anti-herói do universo dos jogos eletrônicos. Como os jogadores das primeiras gerações haviam crescido, Sonic era um jogo mais apropriado para eles.

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As continuações não tardaram a chegar. Já em 1992, a Sega lançou Sonic the Hedgehog 2, cuja grande mudança foi a introdução de um modo de dois jogadores e do amigo de Sonic, a raposa de duas caudas Miles “Tails” Prower. Jogos subseqüentes trouxeram mais personagens ao universo do porco-espinho azul, como a sua namoradinha Amy Rose, sua cópia robótica Metal Sonic e um outro marcante personagem da série, o ainda mais irritadiço Knuckles, uma équidna (outro tipo de porco-espinho) que em primeiro momento entra em conflito com Sonic.

Deu tão certo que Sonic é, hoje, o personagem mais reconhecido dos jogos eletrônicos. Em 2008 ele foi eleito o mais popular ícone dos games no Reino Unido. Ele também já cansou de aparecer em campanhas publicitárias, inclusive, nos idos de 1993, quando a Sega era um dos patrocinadores da equipe de Formula 1 Williams, Sonic apareceu em carros, capacetes e outros produtos relacionados. Talvez sua velocidade absurda tenha ajudado Alain Prost a vencer o campeonato daquele ano, consagrando-se tetra-campeão. Também no final de 2008, Sonic venceu uma enquete do MSN, da Microsoft, para determinar qual o maior ícone dos games, ficando à frente de Mario e Lara Croft, respectivamente segundo e terceiro lugares. Em 2004, o roedor azul ganhou o Golden Joystick Award, o prêmio mais antigo dos jogos eletrônicos e de votação popular, que elege os melhores personagens e jogos anualmente. Ele foi eleito The Sun Ultimate Gaming Hero.

Quase 20 anos se passaram desde sua primeira aparição e ainda hoje Sonic permanece como um dos rostos mais conhecidos do universo dos games. Sua personalidade explosiva recrutou uma legião gigantesca de fãs que até hoje se contentam em jogar novamente a sua primeira aventura. É só assoprar o velho cartucho que ele ainda funciona. O personagem passou por mudanças de consoles e design, todavia jamais perdeu sua identidade azulada de cabelo espetado.  Agora temos inúmeros jogos, desenhos animados e até gibis do personagem. Fonte de diversão até hoje, Sonic nunca parou de correr. E esperamos que nunca pare.

Marcus Vinicius Pilleggi

Quer ver mais sobre Sonic? Não perca o mega-medley versão heavy metal em homenagem ao porco espinho, também aqui no Ao Sugo, em Porco-espinho Metaleiro

4 comentários sobre “Assopra o cartucho que vai

  1. Sonic! bons tempos os que brincávamos com o porco espinho!!

    Show de post… pra variar…. vcs são Phs!

  2. Meu primeiro videogame nao foi um atari….será que o PENSE BEM tb pode ser considerado um videogame???
    Se nao for…entao atari tb foi meu primeiro…alias tenho ate hj…funcionando…menos os controles…
    Alguem tem controles funcionando pra emprestar???Saudade de jogar Enduro!!!!!
    hahahahahahahahaha

  3. Belo post primo! Me lembro muito bem do seu moonwalker! Chega a dar um sexto sentido de lembrar o cenário do jogo na minha mente. E o seu pitfall? Esses jogamos bastante tb! Lembro bem de jogos como Altered Beasts hehe.
    Abraço

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