Eis que, para a minha grande surpresa, minha namorada me pede para assistir Jornada nas Estrelas – A Nova Geração comigo. Enquanto começo a redigir as minhas impressões sobre o alinhamento cósmico planetário, ela abre o meu editor de texto e toma as rédeas do artigo. Vejam só as impressões de uma não-trekker sendo levada pelo Lado Negro da Força, ops, franquia errada.
Aos meus 27 anos e 25 dias, nunca tinha assistido Jornada nas Estrelas. O Victor colocou o primeiro episódio (duplo) de Battlestar Galactica e, lá pelos 65 minutos, eu, que imaginava faltar apenas mais 15, descubro que este episódio “duplo” era “triplo”. Então, um pouco cansada, pergunto: “Victor, que horas que o Capitão Picard vai aparecer?”. As gargalhadas que se seguiram ressoam até hoje, em toda vez que ele conta para algum amigo a minha peripécia. Enfim, não vou fingir que gostei, só porque estou diante de um público que majoritariamente irá discordar de mim. Até porque o foco aqui é outro. Falemos então de Jornada nas Estrelas – A Nova Geração.
A meu contragosto, o Victor quis colocar um episódio aleatório. Ele se diz sistemático, mas eu sou muito mais – ele não sabe disso. Queria assistir o primeiro episódio. Mas como ele disse que este era um episódio duplo, e como a última vez que ele tinha me dito que o episódio era duplo tinha sido um desastre tedioso seguido de gargalhadas fatais, decidi concordar com que ele colocasse “qualquer” episódio. Aspas, porque o Victor é sistemático à maneira dele. Então, andiamo.
Já naquele episódio, eu estava apaixonada por outro homem*. Mas tudo bem, porque não era bem um homem, mas um androide. É impossível não se apaixonar. Neste episódio, Sr. Data, em sua inocência, tenta compreender “a condição humana” enquanto passeia pela Enterprise, questionando comportamentos, encadeando pensamentos, tentando conectar sentimento-razão-ação numa lógica que, obviamente, não funciona.
O pastiche está na reação do androide que, ao cruzar dados empiricamente coletados, se vê numa confusão quando tem de dar a notícia ao noivo de que a noiva havia cancelado o casamento**. Sr. Data procura ajuda de outros membros da tripulação, mas quanto mais tenta entender, mais se confunde. E esse não é exatamente o problema de nós, humanos?
Ao colocar essa sensação de quem está perdido diante do mundo humano em um robô avesso aos nossos sentimentos, parece que temos o aval para dizer: é, querido… a vida é assim mesmo. Às vezes tenho a sensação de que estamos tão habituados a olhar as situações com os mesmos óculos, julgar as coisas a partir de um único ponto de vista – o meu – que é preciso colocar essa lógica de desconstrução da “realidade” na personagem de um robô – pois, do contrário, seria inverossímil? Sei não…
Alferes Paula, com carreira promissora na Frota Estelar (ou não)
* Nota do Editor: Valeu.
** N.E.: Episódio 4×11, O Diário de Data.
Paz e bem!
Comentário de alguém que está longe de ser um trekkie,
mas já viu muitos episódios:
O fantástico de Jornada nas Esterelas é que em estórias curtas consegue nos levar a refletir sobre a condição humana.
Ouso dizer que chega próximo aos eventos narrados na Odisséia de Homero.
Olá Eugênio,
Agradeço o comentário. Jornada para mim tem essa mesma profundidade, algo que tento explorar nos artigos aqui no Ao Sugo. Continue conosco!
Vida longa e próspera,
Victor Hugo