Que os jogos Indie vieram para ficar, isso não é a menor novidade. Graças à internet e às plataformas de distribuição, nunca foi tão fácil chacoalhar o mercado de games, antes tão dominado pelos Triple A. Desenvolvidos com baixo orçamento (ou às vezes sem orçamento nenhum), os jogos Indie prezam acima de tudo pelo que o gamer quer ver. Livres das amarras do mercado, os jogos Indie podem usar e abusar das plataformas e engines, sendo em muitos casos, uma própria forma de expressão artística de seus desenvolvedores. Alguns escrevem livros, outros compõem canções… E alguns fazem jogos.
Uma das maiores surpresas de 2014 foi, sem sombra de dúvida, The Banner Saga. Criado por ex-funcionários da BioWare, a “saga das flâmulas” (ok, tradução porca da minha parte) une uma arte exuberante digna dos antigos desenhos Disney, uma trilha sonora nomeada para vários Grammy e uma história Viking fantástica.
Com a pretensão de criar um jogo capaz de fomentar laços de intimidade com seus personagens tal qual Game of Thrones, o pessoal da Stoic nos trouxe uma saga surpreendente, em que os homens e os Varl, gigantes brutamontes do melhor estilo da mitologia nórdica, precisam unir forças para escapar dos temíveis Dredge, uma espécie de gigantes deformados que estão dominando e destruindo todo o mundo. Como diz o pessoal do IGN, The Banner Saga é a mistura perfeita de Vikings, Game of Thrones e Disney, o que por si só já merece a nossa atenção.
Aos poucos somos apresentados a cada personagem, todos desesperados e quase sem esperanças numa fuga épica, atordoados não só pela perda de entes queridos na guerra, mas também pelo abandono dos deuses. Sim, sim, a coisa é pra gente grande, pesada tal qual O Senhor dos Anéis. Cada personagem introduzido na caravana tem habilidades (e personalidades) muito particulares, cabendo ao jogador saber montar seus “times” de combate.
The Banner Saga parece uma animação Disney de grande orçamento como A Bela Adormecida. Tal associação não é leviana: a equipe da Stoic decidiu apresentar seu jogo se inspirando na arte de Eyyind Earle, artista norte-americano que fez parte da equipe de desenhistas de várias animações Disney dos anos 1950. As ilustrações, ricamente desenhadas à mão, são exuberantes e, acompanhar a longa caminhada das caravanas, chega a ser uma benção por si só, tamanha a ambientação e qualidade artística envolvida no jogo.
O enredo é contado de forma muito semelhante aos livros de aventura-solo, em que ao longo da narrativa o jogador é confrontado com uma série de opções que afetam em maior ou menor grau o final da trama. Já o sistema de combate é montado num envolvente sistema de turnos, também belamente desenhado a mão. Ok, isso faz muita gente torcer o nariz pela simplicidade do projeto (aventura-solo + combate de turnos em uma época de Skyrim e muitos efeitos especiais), mas a proposta é fantástica, levando a um final de plot twist que me fez ficar de queixo caído.
Lançado no Kickstarter em 2012, The Banner Saga pedia US$ 100.000,00 em crowdfunding, tendo conseguido, nada mais, nada menos, que US$ 723,886,00! Esse salto no orçamento foi quase todo utilizado na contratação do premiado Austin Wintory para a composição da Trilha Sonora, além da orquestra Dallas Winds Symphony inteira, dando ao jogo uma riqueza e imersão sem precedentes. O jogo está disponível em vários idiomas, inclusive em português, além de uma versão deluxe na Steam que é vendida juntamente com a banda sonora.
The Banner Saga é um jogo que vale a pena ter no acervo e, atenção fanfarrões de plantão, deve ser comprado, prestigiando o trabalho de um estúdio pequeno independente para que continuem produzindo os novos capítulos dessa saga toda. Apesar de Indie, The Banner Saga bota muito Triple A no chinelo, produzido por fãs para fãs e não para cumprir uma meta de produção anual. Joguem e depois me contem o que acharam do final.
Victor Hugo, o cara da Hoste Azul