Quem matou Laura Palmer? Essa é a questão que permanece em nossas mentes desde 1991, quando a minissérie Twin Peaks foi exibida no Brasil pela Rede Globo após o Fantástico. Naquela época ainda era bastante pequeno (9 anos de idade), não entendendo muito o que se passava com todo o burburinho causado pelo programa em casa. Apesar de não ter acompanhado naquele ano, a imagem de Laura Palmer, morta, enrolada em um saco plástico gigante, ficou tatuada na retina. Quem matou Laura Palmer?
Dale Cooper: Harry, vou te contar um pequeno segredo. Todo dia, uma vez por dia, dê a si mesmo um presente. Não planeje. Não espere por ele. Apenas deixe acontecer. Pode ser uma nova camisa da loja de roupas masculinas, uma cochilada na cadeira do escritório. Ou duas boas xícaras de um bom café.
O seriado foi criado pela dupla super bem-sucedida Mark Frost e David Lynch (Lynch/Frost Productions), tornando-se um marco cult e fonte de inspiração para vários enlatados norte-americanos. Twin Peaks foi uma das primeiras séries a desafiar o famoso sistema de syndication ianque, sistema em que obrigava os seriados televisivos a terem episódios independentes que pudessem ser vendidos para 158344567129 emissoras e serem exibidos, é claro, fora de ordem (parece Brasil de até alguns anos atrás).
Twin Peaks nos apresentou o misterioso assassinato de Laura na pacata cidade que dá nome ao seriado, mobilizando o Agente Especial do FBI Dale Cooper numa investigação insólita. Não se tratava de um mero assassinato, mas uma trama absurdamente complexa envolvendo forças sobrenaturais. Foram 30 episódios narrando as vidas de 22 pessoas que orbitavam em maior ou menor grau a vida de Laura, formato até então inédito na televisão. Um seriado – sério – que envolvia investigação do FBI em casos sobrenaturais foi o suficiente para inspirar Arquivos X anos depois, como já apontado aqui no Ao Sugo… Acompanhamos em 30 episódios a rotina de Twin Peaks, um dos últimos bastiões da paz na conturbada vida moderna, porém agora maculado não pela maldade (isso é brega), mas por algo que só é explicado no último episódio.
James Hurley: Quando você começou a fumar?
Donna Hayward: Fumo de vez em quando. Ajuda a aliviar a tensão.
James Hurley: Quando foi que você ficou tão tensa?
Donna Hayward: Quando comecei a fumar.
Os dedos de David Lynch são notórios em cada episódio, trazendo não um, mas vários mistérios escabrosos que desafiam a mente humana, característica de sua tão famosa linguagem cinematográfica. Quando você acha que entendeu o que está acontecendo, você percebe sempre que o “buraco é mais embaixo”, ponto seguido à risca até o fim, ALIÁS, episódio que me deixou literalmente apavorado. Apavorado. Tentaram repetir o feito alguns anos atrás com LOST, esta tão aclamada pela crítica como “original”… porém, por uma crítica composta, talvez, só por pessoas que nasceram de 1992 pra frente. Síndrome de Memória Curta, dizem.
Fruto do fim da década de 1980, muitos se queixam do estilo da produção, ritmo, do vestuário, da trilha sonora e dos diálogos bregas, sendo, na verdade, as coisas que mais marcaram o seriado enquanto único. A estética foi reproduzida à exaustão e o seriado é referenciado até os dias de hoje em incontáveis produções. Ouvi há algumas semanas e com grande indignação que seria inconcebível (ou terrível, seguido de risadas esacalafabéticas) assistir a um seriado de 30 episódios para solucionar um “mero homicídio”, ponto que só reitera o quanto Twin Peaks foi e ainda é diferente dentro do mundo televisivo. Twin Peaks, minha gente, é obrigatório, dizem, sendo uma das 50 melhores séries de televisão de todos os tempos. E aí, quem matou Laura Palmer?
Agente Especial Victor Hugo, direto do RR