
Acorde. São pouquíssimos os escritores da atualidade que conseguem ser tão versáteis e bem sucedidos dentro de um ou mais gêneros da literatura. É mais raro ainda encontrar escritores que são igualmente bem sucedidos em várias mídias, no caso no mundo dos livros, quadrinhos (graphic novels e quadrinhos de linha) e do cinema. Apesar de parecer irreal, tal pessoa existe e, por ironia do destino ou não, direta ou indiretamente instigou com seus feitos a criação do Ao Sugo.
Nascido em 10 de novembro de 1960 na cidade de Hampshire, Inglaterra, ele começou a ler aos quatro anos de idade. Como faz questão de exaltar em várias entrevistas, ele é daquele tipo de criança e adolescente que gastava horas e horas lendo, ao contrário dos amigos que estavam todos na rua aprontando ou praticando algum esporte. Bookworm? Talvez. Rato de biblioteca? Certamente. Seu nome é Neil Richard Gaiman, o rato de biblioteca que conquistou o mundo da Ficção.
Um dos escritores que mais lhe causou impacto na juventude foi o nosso camarada John Ronald Reuel Tolkien, exatamente, aquele filólogo que gastou quase toda a sua vida descrevendo as paisagens e costumes de um lugar fantastico, a Terra-Média. Outro escritor que lhe impressionou bastante foi Clive Staples Lewis, também bem conhecido aqui dos leitores do Ao Sugo. As Crônicas de Nárnia e suas implicações morais atingiram o nosso nobre inglês de Hampshire em cheio.

Um nerd comum como quase todos os dos dias de hoje (isso sendo generoso e considerando que os nerds de hoje realmente conhecem e leram esses livros)? Não. Gaiman foi ainda conquistado pelas viagens da pobre Alice de Lewis Carroll, ou então pelo brilhante ensaísmo de Gilbert Keith Chesterton, tudo isso misturado com uma pitada de histórias em quadrinhos de super-heróis e graphic novels de Alan Moore. Tinha tudo para dar certo.
Gaiman trouxe na década de 1980 uma preciosidade sem tamanho para o mundo da Literatura. Trabalhando em conjunto com o artista plástico britânico Dave McKean, após a bem sucedida experiência de Orquídea Negra, teríamos nas bancas Sandman. E Sandman hoje em dia continua tão, mas tão impressionante que mesmo aqueles que nunca leram sabem que devem respeitar estas 75 edições como se fossem o Santo Graal. Com Sandman Neil Gaiman deu um chacoalhão nada singelo no mundo como o conhecemos, entoando nesta graphic novel debates complexos entre Literatura, Quadrinhos, Filmes, Seriados Televisivos, Música Pop, Movimento Punk e tudo mais dentro da mais bela trama já criada.
Tantos outros livros, graphic novels, histórias em quadrinhos e filmes tocados por Neil Gaiman ainda chegariam ao mundo, mostrando uma versatilidade incrível e um fácil trânsito de uma mídia para outra na exposição de ideias, pensamentos e tudo mais. Várias dessas obras já são discutidas aqui no Ao Sugo desde os nossos primeiros artigos.
Tal qual um fio solto na Grande Tecedura, toda a obra de Gaiman causou tamanha impressão nestas duas pobres almas que tem esse péssimo hábito de sonhar. Com efeito, chegamos ao ponto de fundarmos o Ao Sugo como um debate aberto sobre aquilo que fazemos melhor. Sonhar e imaginar mundos novos nunca antes vistos. Pessoas incríveis, criaturas fantásticas, castelos, fadas, mitos, lendas. Como um refinamento da nossa coluna de Fantasia, Ithildin, convidamos os nossos leitores para que entrem conosco nesta onírica discussão. Bem vindos ao Despertar. Acorde.
Victor Hugo Kebbe, Sonhador
Amei (o trabalho de) Neil Gaiman antes mesmo de saber quem era ele. Desde a primeira vez que assisti a obra cinematográfica de Coraline, fiquei encantada com a história. Um ano depois, encontrei uma capa de um livro que me chamou atenção e que pouco depois ganhei… O oceano no fim do caminho me fez procurar por mais obras de Gaiman (e descobrir que Coraline também era dele). Com certeza se tornou um de meus autores favoritos, competindo com Tolkien, Lewis, Martin, Rothfuss, etc., e ainda assim, sem competir com nenhum deles, tendo seu canto especial como “autor que provoca certas sensações”.