Em 1964 aquele ex-piloto da 2ª Guerra Mundial, egresso da Universidade de Colúmbia, emplacou o piloto de uma série que seria um sucesso absoluto mesmo 47 anos depois da estreia em 66. Apesar desse histórico beligerante, a Federação imaginada por Gene é pacífica e não usa moeda (em tempos de Guerra Fria). A melhor espaçonave, enviada em sua missão exploratória de cinco anos (ou contínuai) mal dispara um tiro, se considerarmos as avançadas tecnologias do século XXIV ou mesmo se comparada às armas inimigas. Os phasers estão quase sempre preparados para tontear ou desmaiar. Poucas vezes vimos o capitão da nave, Picardii, tirar as armas de verdade de seus esconderijos, só o fazendo em situação de emergência absoluta – uma invasão borg ilustra. Porque como dizia Asimov, “a violência é o último refúgio do incompetente”. Assim, os conflitos de Star Trek são resolvidos preferencialmente pela astúcia.
Van Gogh: Mas você não está armado.
Doutor: Estou.
Van Gogh: Com o quê?
Doutor: Autoconfiança e minha chave-sônica. É tudo o que preciso.
Opa, o título não falava em Dr. Who? Não, não errei o nome do artigo. Não, você não foi enganado. Ocorre que é impossível falar sobre ficção científica sem traçar paralelos com a melhor Ficção Científica já vista na televisão.
“The Doctah” é um alienígena muito simpático (em geral) e britânico (sempre). Suas armas são uma mente brilhante, quase um milênio de conhecimentos acumulados, uma miraculosa chave de fenda que, com o mesmo botão, hackeia computadores, muda códigos, abre portas e incendeia e, é claro, a TARDIS (relaxa, já explico o que é). Ele é de Gallifrey, um planeta do sistema solar binário chamado Gridlock, localizado na constelação Kasterborous, há 250 milhões de anos-luz da terra. Encantador. Ocorre que ele tomou parte em uma guerra lá. Coisa feia. Depois disso, se tornou esse pacifista mimoso que adotou a Terra como quase-lar.
Doutor: É chamada TARDIS, a coisa. T-A-R-D-I-S. Quer dizer Time And Relative Dimension In Space.
[Rose começa a chorar]
Doutor: Tudo bem. Choque cultural. Acontece com os melhores.
Ele nos faz olhar em perspectiva para a humanidade: esse alienígena, que até 2013 usava gravata borboleta, que entre várias aventuras viajou muito mais de 250 milhões de anos-luz e viveu quase mil anos, percebe a resiliência e capacidade de adaptação dos humanos. Ele – ainda – vê o potencial dessa espécie de viver em paz, mesmo quando nós já perdemos a esperança. E as semelhanças com Star Trek não param na bandeira branca.
A década de 60 foi profícua para os fãs de séries de Ficção Científica. Em 23 de novembro de 1963 estreia Doctor Who. Em dezembro daquele ano os primeiros super inimigos do Dr. aparecem: os Daleks. São uma criação muito bizarra de um cientista mais bizarro, Davros. Ele basicamente integrou essa raça chamada Kaled a um tanque de metal indestrutível e cheio de armas mortais. Na guerra contra os Senhores do Tempo (raça à qual o nosso Doutor querido pertence) eles foram quase destruídos. Para a tristeza do universo, quase. Objetivo? Conquista e aniquilação do universo e de todas as raças inferiores. Apropriado para o pós-guerra, hein? Eles não têm qualquer tipo de sentimentos legais. Só ódio habita aqueles coraçõezinhos de metal. Os Daleks são um símbolo tão forte na cultura britânica a ponto de virar estampa de selos dos Correios em 1999.
Rory: Estamos em uma nave espacial maior por dentro do que por fora.
Amy: com um alienígena de gravata borboleta.
Rory: Então “o que parece real” não é tão simples assim.
Em 1966 chegam os Cybermen. Raça inicialmente orgânica que começou a implantar partes artificiais como forma de preservação da espécie. O processo fez com que se tornassem uma raça lógica e totalmente despida de emoções. Os Cybermen aumentam em número pelo método de “upgrade”, convertendo neste processo humanos. Restam o cérebro e talvez alguns órgãos. No episódio The tomb of the cybermen (1967) um cyberman diz: “struggle is futile” (em tradução tosca, “lutar é inútil”). Tenho memória de em algum dos episódios ter ouvido que eles têm uma consciência coletiva. Busquei a informação na internet mas só achei uma fonte confirmando. Não me sinto confiante para afirmar sem rever o episódio, já que os próprios Cybermen mudaram muito ao longo dos anos.
Ambos voltam de novo e de novo, tentando conquistar a Terra, livrar o universo dos malditos humanos ou assimilá-los. E em 1989 chegam os borgs (se eu precisar contar em qual universo, você está no blog errado, heim?) com sua consciência coletiva, o objetivo de assimilar geral para atingir a perfeição e já avisando: “resistir é inútil”. Interessante que somos apresentados aos borgs no episódio chamado Q Who. Coincidência?
Doutor: É assim que o tempo normalmente passa: realmente devagar? Na ordem certa?
Vejam bem, queridos leitores: não estou aqui afirmando que Rodenberry roubou ideias alheias. Não preciso dizer que ele era um cara suficientemente inspirado. Basta o fato de ter criado a melhor série de Ficção Científica desse sistema solar. Ocorre que algumas memórias nos acompanham pra vida. Às vezes não sabemos de onde surge uma ideia e, olhando em perspectiva, outras pessoas conseguem perceber a fonte. De repente estamos viajando e Gene nem assistia Dr. Who. Who knows? Por outro lado, Dr. Who também tem cenas e episódios inspirados (ou não?) em Star Trek. Clássica cena de Nêmesis do Data pulando de uma nave pra outra? Tem no Dr. Who. E para quem aceitar o desafio, assista ao episódio Amy’s choice da 5ª temporada e me diga de quais episódios lembrou. Dica: são da incrível Nova Geração.iii
Mas estou aqui pra contar do Dr. Who. Já falei que ele veio ao mundo em 63. Naquele tempo os episódios eram divididos em 4 ou 6 partes, apresentados semanalmente para formar uma história. Em 1989 a série foi descontinuada. O que manteve a série na imaginação dos fãs foram os livros, quadrinhos, histórias de personagens secundários, peças teatrais e um filme para a televisão, de 1996 com o oitavo doutor. Depois desse hiato o produtor executivo Russell T. Davies com seus roteiros extremamente bem escritos “regenerou” Dr. Who na forma de Christopher Eccleston, como o 9º Doutor. Assim, em 2005 a BBC viu a febre pelo alienígena viajante ressurgir na Inglaterra.
Daleks: Exterminar, exterminar, exterminar!
Regeneração? Oitavo e nono doutor? Como assim? Vamos lá: os Senhores do Tempo ou Time Lords são (ou eram, pois só sobrou um – ou tem mais? Spoilers. Só assistindo) uma raça bem poderosa que não envelhece e se regenera quando sofre um ferimento mortal, se tiver tempo para preparar a regeneração. Mas um Senhor do Tempo pode ser morto sob pena de a brincadeira perder a graça. Se nosso doutor levar um tiro e, durante o processo de regeneração, levar outro tiro, já era! Quem imagina um mundo sem Dr. Who? Contudo, quando se regeneram, as memórias permanecem. “Mas o sentimento é como o de morrer de verdade”, contou o Dr. O estilo muda: jaqueta de couro, terno risca de giz, gravata borboleta, assim como a personalidade, o jeito de falar.
Prometi contar sobre a TARDIS e mantenho minha palavra: significa Time And Relative Dimension In Space. É o sonho de qualquer fã de Ficção Científica. Com todo respeito à cobiçada Millennium Falcon com seu hyperdrive (quase sempre quebrado), à nave mais linda do cinema, a Enterprise com a dobra espacial e à valente Galactica com o pulo Faster Than Light, trocaria qualquer uma delas por aquela “blue box“. Até a expressão soa bem: “the doctor in the blue box“. É uma cabine policial azul, vintage. Poético. Ocorre que esse tipo de nave, maior por dentro do que por fora, deveria se mesclar com o ambiente. Depois de uma visitinha ao ano de 1963, todavia, o sistema de disfarce estragou. Ainda bem que o estilão “antiguidade” tá na moda, porque o planeta de onde ela veio e onde poderia ser consertada, Gallifrey, já era (lembram da guerra?). Alguns atributos: ela, assim como o Doutor, regenera – e a cada regeneração, assim como o Dr., volta mais linda. Tem uma “alma” e um link empático com o Doutor. Viaja no tempo e no espaço. Instantaneamente. É o peixinho dourado do Guia dos Mochileiros. Tá bom ou precisa de mais motivos pra desejar?
“Você quer vir comigo? Se quiser, lhe aviso: você verá uma infinidade de coisas. Fantasmas do passado, aliens do futuro, o dia em que a terra morreu em uma bola de fogo. Não será quieto. Não será seguro. Mas lhe digo: será a viagem de sua vida.”
O Dr. sempre tem uma companheira (pode ser um companheiro) de viagem. Às vezes ele se apaixona por ela. Outras ela se apaixona por ele. Acontece – raramente, pra imitar a realidade – de o sentimento ser recíproco. Na maioria das vezes eles se tornam grandes amigos pra vida. A família das companheiras pode ser um problema monstro. De vez em quando a família é tão, mas tão incrível que quando a companheira não pode ir, o membro da família se aventura com o Dr. Até a 4ª temporada – sob a produção executiva do Russell T. Davies – as companheiras eram excepcionais. Se o Dr. não podia, ela salvava o mundo. Olhando para uma realidade sem a companheira, o Dr. morreria e o mundo estaria em completo caos. As personagens de Davies – apesar de secundárias – são incríveis, fortes, essenciais à história, perspicazes, salvam o doutor e o mundo mil vezes. São selfrescuing princesses.
Então chegou a 5ª temporada. Com ela, Steven Moffat e as donzelas em perigo, os objetos de cena. No século 21, Steven? Um doutor egocêntrico que talvez espelha a mania de grandeza do produtor, alguns episódios com situações aparentemente sem saída e soluções deus ex machina. Interessante que Dr. Who é a única série – de que eu tenho notícia – cuja volta retoma a história de onde parou. Vamos descobrindo paulatinamente (a partir da 1ª temporada de 2005) quem é esse Dr. sem nome. A mitologia, em princípio, seguiria a mesma lógica. Não fosse pelo glorioso novo produtor executivo que tem mudado a mitologia na cara dura. “Os vilões weeping angel funcionavam assim? Que pena, não funcionam mais.” Tudo que você sabe está errado.
Doutor: Eu estou sendo extremamente perspicaz e não tem ninguém para se impressionar. Qual o ponto em tê-los aqui?
Agora, no momento de escolha do 12º Doutor, a gente torce por um Doutor negro ou por uma Doutora. Quem sabe uma Doutora negra? Dr. Who sempre navegou livremente por qualquer época e lugar por ser homem, branco, bem vestido e articulado. Quando foi obrigado a se disfarçar de humano levou sua companheira Martha Jones “My Deariv“, mulher negra, para o séc. XVIII. Ela foi humilhada. Como imaginar que esse cara, que sequer consegue imaginar uma personagem feminina interessante, poderia explorar com o protagonista questões de liberdade e opressão?
Voltando aos fatos legais do programa: Douglas Adams foi um dos escritores da série, nos primórdios. Neil Gaiman escreveu o episódio The Doctor’s Wife, episódio conceituado e reconhecido por vários prêmios da Ficção Científica. Alguma dúvida sobre a razão da série ser tão bacana? Dr. Who está no Guinness como a série de Ficção Científica mais bem sucedida e que passa há mais tempo na televisão.
Toca telefone da TARDIS (óbvio que tem telefone!)
Amy: É o primeiro ministro.
Doutor: De onde?
Amy: Da Inglaterra.
Doutor: Qual primeiro Ministro da Inglaterra?
E o que esses caras e muitos outros têm inventado ao longo de meio século de histórias? Viagens, lógico. Encontros inusitados. Dilemas. Despedidas. Episódios de Natal. Conversava com meu amigo Miguel Fraga e concluímos que uma criança que se criar acreditando em Dr. Who ao invés de Papai Noel, além de ser muito inteligente, terá plena convicção de que nunca – eu digo NUNCA – deve passar o Natal em Londres. Ou vocês realmente achavam que os especiais de Natal eram com os equivalentes britânicos à Simone e ao Roberto Carlos cantando “noite feliz”?
Dr. e suas companheiras passearam por naves na beira de buracos negros, presenciaram a explosão de nosso Sol com o subsequente fim do planeta Terra, salvaram raças da escravidão, conheceram a Rainha Victoria, Shakespeare, Van Gogh, Elizabeth I, Nixon, Madame de Pompadour, Einstein, Hitler, Obama e Agatha Christie, pra citar alguns. Até o fantástico Richard Dawkins tem aparição especial.
Wilfred: Novecentos anos. Nós devemos parecer como insetos para você.
Doutor: Para mim vocês parecem gigantes.
Como o Doctor é um personagem adorável, ele atrai pessoas adoráveis, como a viajante no tempo e professora River Song. A história dos dois é de trás pra frente. Quando eles se encontram, têm que sincronizar o diário pra um não dar spoiler do futuro do outro. E o primeiro beijo pra um é o último pro outro. Feliz e triste. No meio de tudo isso, tem as escolhas difíceis: aniquilar os Daleks – que por várias vezes já tentaram conquistar ou destruir o universo – ou salvar a Terra? Acabar com uma raça beligerante – o que seria genocídio – ou tentar mudá-la, com risco de ela voltar à guerra? Ele não pega em armas. Mas as pessoas ao seu redor se armam e se sacrificam para protegê-lo. Quão pacifista é isso? Em favor do meu Doutor, tenho a dizer que ele se sacrificou em favor dos outros algumas vezes.
Se vocês ainda não são Whovians, os fãs da série, está feito o convite. Espero que se divirtam tanto quanto eu nas viagens incríveis dessa cabine azul. Bem vindos à TARDIS.
Roberta Manaa, diretamente para o Ao Sugo
i Dependendo de sua preferência, a Série Original ou Nova Geração. E não me venha falar em Into the Darkness, pois haverá discórdia séria.
ii Sinceridade: ele é O Capitão da Ficção Científica.
iii Russell T. Davies lamentou não ter conseguido fazer um crossover de Dr. Who e Star Trek. O melhor que temos nesse sentido é esta História em Quadrinhos. Ainda não achei, mas pra ser sincera ainda não procurei seriamente.. Quando achar e ler, prometo deixar um comentário.
iv Eu a chamo de “Martha ‘My Dear’” porque sempre que escuto o nome Martha lembro da música dos Beatles. Mas o nome dela é Martha Jones e ela é uma das companheiras mais incríveis do “Doctah“.
v O título deste artigo é uma homenagem à própria explicação de Russell T. Davies quando perguntado sobre os motivos do sucesso de Dr. Who. [Nota do Editor]
Olá! Comecei a ver a série alguns meses atras, começando pela fase de 2005. Adorei demais, tanto que via uns 3 episódios por dia. Cheguei agora na sexta temporada, mas acho que o estilo mudou demais com Steven Moffat, ou é tudo muito exagerado ou o episódio é sem graça. Acho estranho pq muito gente fica endeusando esse cara, mas pra mim a fase de Russel foi muito melhor.
Oi, Rakka
Então, ontem deu saudade do Dr. e resolvi rever uns episódios antigos. Peguei a despedida do queridão Eccleston. Não sei se por contingência financeira, uma das coisas que percebo é que nas temporadas novas vemos muito menos viagens por outros mundos. Claro que a Terra tem várias possíveis aventuras legais, mas eu acho bacana “explorar mundos novos e estranhos, procurar novas civilizações, ir audaciosamente onde ninguém nunca foi”.
O Steven, me parece, tem um desejo de expandir a série pro grande público. Tipo J.J. Abrams com Star Trek. E, como JJ, acaba fazendo porcaria: mais explosão, mais perseguição, e perde a mão. Ele sabe que quem é fã não vai deixar de assistir. No máximo, vai ter menos entusiasmo. Quem curte essa vibe Velozes e Furiosos vai gostar.
Esses exageros e manias de grandiosidade também me incomodam. Essa coisa “você sabe com quem está falando? Então volte para casa” não é do Doctor Who. É coisa de político brasileiro.
Espero que domingo tenhamos uma boa notícia, com um ator bacana que dê um up na série, apesar dos Moffat da vida 🙂
Oi,Roberta!
Nesta frase “Ele sabe que quem é fã não vai deixar de assistir. No máximo, vai ter menos entusiasmo” vc disse tudo. Eu não desisti de ver a série, pq afinal é Doctor Who, mas não tenho mais aquela empolgação.Talvez com a mudança pra um ator mais maduro o estilo mude um pouco, apesar de achar que o problema nunca foi o Matt Smith. Eu prefereria muito mais que Moffat tivesse anunciado sua saída, mas isso é díficil de acontecer,né….Mas vou discordar de vc na questão do J.J…hauahahua…A série clássica sempre será a minha favorita, mas não acho que ele estragou a franquia com os novos filmes, pelo contrário,mas aí já é outro assunto =)
Adoro Dr Who nem sei desde quando e sinceramente sempre acreditei que era uma das poucas a se interessar pela série aqui no Brasil. É muito bom conhecer outras pessoas com o mesmo interesse.
Cá entre nós, qual foi seu Doctor favorito? O meu é o Chris Eccleston. Gosto da interpretação e personalidade que ele deu; afinal é um excelente ator.
Custei a me adaptar às caretas do Tennant. O Matt Smith é legal, mas tem uma cara de bobão…
Eu espero que o Peter Capaldi retome um pouco mais a linha que o Eccleston estava seguindo, menos careteiro e mais sério. Gosto do Doctor um pouco mais maduro.
Adorei ler sobre teu Dr. preferido, Barbara! 😀
Eccleston também mora no meu coração e é meu número 1. O Tennant é meu segundo porque me identifico com o “tique” com a sobrancelha hehehe
Sempre converso com o Miguel sobre Dr. Who. Mandei uma foto pra ele do dia em que o fantástico granps Wilf entra na TARDIS e reclama da sujeira.
Amo o Wilfred e o Miguel colocou uma pulga atrás da minha orelha: a melhor dupla dele seria Wilf e Eccleston.
Qual seria a melhor dupla pra ti?
Me emocionei tanto com teu favorito que esqueci de dizer: descobri há pouco que tem um monte de whovians no Brasil 🙂
Quase todos os estados têm uma comunidade.
Aqui o endereço da Brasil.
https://www.facebook.com/Whovians?fref=ts
Sobre o Capaldi: isso vai soar hortodoxo, mas achei estranho demais um personagem do Dr. Who (e de Torchwood) ser o Dr. Who.
Nós devemos fingir que o episódio de Pompéia não aconteceu?
De repente tudo isso é pura implicância porque eu queria uma mudança nos rumos, como falei, com um Dr. negro ou uma doutora.
Enfim, tomara que o décimo segundo seja fantástico.
Moffat é um ótimo escritor para episódios isolados, alguns dos melhores episódios das temporadas anteriores foram escritos por ele (e pelo colega Mark Gatiss também), mas como showrunner ele deixa muito a desejar. Parece que ele tem tanta sede de deixar sua marca na série que acaba desrespeitando a história ou mesmo ignorando acontecimentos e personagens anteriores (por exemplo, como companions que tiveram um impacto tão grande sobre o Doctor, como Rose e Donna, não são sequer mencionadas desde a 5ª temporada?). Sem contar que ele insiste em sempre bater na mesma tecla, tirando a graça de muita coisa. Quando vi o episódio Blink pela primeira vez, admito que fiquei — apesar de já adulta — morrendo de medo dos Weeping Angels. Hoje, estão desgastados. O que antes eram alguns dos inimigos mais legais e aterrorizantes da série, hoje botam tanto medo quanto o spam da Samara. Parece que não se pode elogiar uma única cartada do Moffat, que ele vai lá e a usa à exaustão.
A nossa sorte é que Doctor Who é e sempre foi maior do que o Moffat e seu ego.
Izabelle, quando eu escrevi esse artigo eu pensei que eu era minoria no meu desgosto pelos episódios mais novos.
Os weeping angels nos deixavam de cabelos em pé (fiquei na ponta do sofá quase comendo o cobertor) porque mudavam a dinâmica do tempo. Eles acabavam com uma vida e obrigavam a pessoa a reconstruir a vida em outra sociedade, em outro tempo, em outro lugar, com outra família. Muito maluco – e mais assustador que simplesmente matar.
Outro dia li um blog de uma menina que corrobora com tua visão: Moffat escreve bem episódios isolados, mas ele não tem um bom domínio do todo. Atualmente até a questão dos episódios isolados eu tenho dúvidas, porque sem um freio – que era o Davies – eu acho que ele exagera. No sentimentalismo Rory X Amy, no egocentrismo do Dr., nas soluções de situações insolúveis.
Por outro lado, ainda tem episódios ótimos, como o Dinossauros na espaçonave.
Como tu disseste, é uma série incrível que sobreviveu por 50 anos. Não é um Moffat que vai acabar com ela.
um doutor negro talvez em 2099.