Lembro-me dos primórdios do canal por assinatura Warner Channel no Brasil, cuja programação era muito parecida com a de hoje, porém com seriados antigos. A nostalgia ia a mil, assistindo a seriados como Os Três Patetas, A Noviça Voadora e Jeannie é um gênio, entre outras. Um dos blocos que mais me divertia – e que eu fazia o possível para não perder – era o de seriados com super heróis, nos mostrando que desde há muito estes personagens fantásticos permeiam o mundo televisivo muito antes desse boom na indústria cinematográfica de Vingadores, Homens de Ferro e Homens Aranha…
Como não falar de seriados de super heróis sem falar do notório seriado Batman, sucesso estrondoso da década de 1960 e que até hoje traz muitas lembranças (e arrepios) entre os fãs do Homem Morcego. É bastante interessante notar que Batman foi um seriado de sucesso, totalizando 120 episódios entre os anos de 1966 e 1968 e que foram repetidos à exaustão pela televisão brasileira.
A produção da 20th Fox Television contava com Adam West no papel do milionário Bruce Wayne/Batman, além de Burt Ward como Robin, O Menino Prodígio, trazendo quase que uma transcrição literal dos quadrinhos de Bob Kane das décadas de 1930, 1940 e 1950 para a tv. Os cataplofts, cabuns, zás-traz dos quadrinhos preenchiam as cenas do seriado, além da apresentação de personagens bastante cômicos e próximos aos gibis daqueles tempos.
Cores exageradas, um Coringa escandaloso e um Alfred muito recatado marcam o seriado, cuja abertura deixou como legado o Nanananana que tanto se repete em memes do Facebook. Ah, e me diga: quem aqui não brincava ou sonhava com o Batmóvel do seriado, um Lincoln Futura adaptado que soltava tímidas labaredas pelo escapamento?
Outro seriado que marcou época foi Mulher Maravilha. Diante do imenso sucesso de Batman, já em 1969 o produtor do seriado do Homem Morcego, William Dozier, tentou traduzir os quadrinhos da amazona para a televisão, porém sem sucesso. Aproveitando o staff de escritores de Batman Dozier produziu um piloto, porém jamais exibido.
A Mulher Maravilha só vingou em 1974 com um filme para a tv super esquisito com a atriz Cathy Lee Crosby no papel da nossa heroína, no canal ABC. Lógico que ninguém se lembra da pobre Cathy, muito menos de seu uniforme nada a ver com o que sempre vimos nos quadrinhos (bom, o filme se passava no período “I Ching” dos quadrinhos, que nunca marcou nada na nossa mente, convenhamos…), mas já tínhamos a presença de Ricardo Montalban (o Sr. Rourke de A Ilha da Fantasia e o Khan de Jornada nas Estrelas) como vilão. A vá!
O filme da ABC abriu as portas para a produção do seriado pela Warner Bros., trazendo para o papel principal a atriz Linda Carter, essa que sim, marcou e muito o imaginário da década de 1970. Com 3 temporadas entre 1975 e 1979, os seus 59 episódios sempre traziam entre os comerciais aquela caixa de texto característica dos quadrinhos, apesar de achar o seriado bastante sóbrio perto de Batman. A história trazia a chegada da Princesa Diana das Amazonas na América, encontrada pelo Major Steve Trevor da Força Aérea americana que cai no Triângulo das Bermudas, terra das Amazonas. Hein? Contudo, a saudade e nostalgia ainda são grandes e me permitem relevar essa história maluca…
Ok, não citei o Superman original da década de 1950 (e nem vou), mas me marcou muito a minha adolescência o seriado Lois & Clark – As Novas Aventuras do Superman, trazendo como protagonistas Dean Cain e uma já bem sucedida Terry Hatcher. Com 88 episódios divididos em 4 temporadas (1993-1997), As Novas Aventuras do Superman atualizava as histórias do Azulão para a estética televisiva da década de 1990, cujos enredos acompanhei atentamente durante sua exibição na Rede Globo aos domingos.
O seriado teve grande impacto aqui em casa, pois foi justamente neste período em que iniciei minha coleção de quadrinhos. Apesar de já ler Superman desde muito cedo, foi apenas nesse período que passei a ler e apreciar as histórias do nosso herói com regularidade e afinco. O entrosamento de Dean Cain e Terry Hatcher foi bastante elogiado pela crítica na época, até que anos depois, com o lançamento da História em Quadrinhos do casamento do kryptoniano, foi percebido por mim quase que como continuidade daquele espírito do seriado.
Cá entre nós, Dean Cain nunca convenceu ninguém como Superman, um personagem que carrega por muitos anos a imagem do saudoso Christopher Reeves. Contudo, o seriado primava pelo espírito dos gibis, dando, no entanto, ênfase na relação – platônica ainda – entre os dois jornalistas, tendo a Lois um papel fundamental na resolução de vários problemas (e também se metendo em várias encrencas, talvez uma herança que trouxe de seus tempos de MacGyver…). Naquela época ainda não tínhamos os roteiros incipientes e juvenis de Smallville pra estragar a coisa toda…
Outro seriado exibido pelo Warner Channel na época foi The Flash, de 1990 (e que no Brasil passou logo no começo da década de 1990 pela Rede Globo). Com efeitos especiais “inovadores” para a época, The Flash foi extensamente noticiado como revolucionário tecnologicamente, tendo como protagonistas John Wesley Shipp como Barry Allen, o Flash, e Amanda Pays como a cientista Tina McGee. É notória a herança estética de Batman (1989) de Tim Burton, não só pelo visual do seriado como até mesmo pela trilha sonora, cujo tema foi composto por Danny Elfman.
Flash foi exibido no conturbado período da Guerra do Golfo, resultando em sérios problemas de audiência que cancelaram o seriado. Com apenas 22 episódios, nosso herói velocista jamais retornou para a televisão no formato live-action. Quem aqui não se lembra de seu uniforme vermelho de camurça, revestindo uma armadura ou carapaça extremamente musculosa e absurdamente irreal para o coitado do Flash?
Outros seriados com super heróis vieram por aí. Hoje em alta e nas graças de Hollywood, eles infestam (aham, infestam) os cinemas de todo o mundo em várias seqüencias, o que é uma grande ironia do destino. Se antes nós tínhamos seriados com produções limitadas e enredos às vezes bastante fracos, hoje temos tais seriados transpostos para a telona, visto a falta de criatividade e originalidade que se instalou em Hollywood. Ao invés de filmes novos, a aposta dos dias de hoje é manter 927836498723 continuações destas películas super heróicas, muitas vezes criando produções de cunho altamente duvidoso… alguém aí disse Demolidor? Mas deixemos isso para outro momento… Fico aqui com minha nostalgia televisiva, tempos que não voltam mais – nem com o Superman de Christopher Reeves voando na direção contrária à rotação da Terra.
Victor Hugo, Nostálgico
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