Um mundo fantástico… Inteiramente seu.

Quantas foram as vezes em que você ficou na frente de um PC ou notebook (ou máquina de escrever para os leitores acima das 40 primaveras) e o número de primeiras páginas escritas ultrapassou em espessura uma nova edição de As Crônicas de Nárnia? Não que você tenha gasto muito papel, mas essas primeiras páginas, provavelmente, passaram pela sua cabeça em frações de segundo, e em frações de segundo foram também descartadas.

Escrever uma história de fantasia é bem fácil, mas criar algo novo ou, no mínimo, com ou pouco de originalidade é um trabalho absurdamente trabalhoso, mesmo para o mais criativo e eloquente mestre de RPG. Mesmo aquela ideia que você acredita ser a mais original de todas precisa ser trabalhada para que não caia em clichés que a jogam no espaço comum de fantasias água com açúcar.

Ler este texto não o fará se tornar o C. S. Lewis de nossa era, mas pode servir como um guia de coisas a se pensar na hora de constituir a trama.

1)      Toda história, de fantasia ou não, possui uma espécie de “esqueleto”, um eixo que obrigatoriamente a compõe. Por exemplo:

 a) Personagem possui um objetivo / Personagem tem acesso a outra alternativa / Personagem escolhe a outra alternativa / A escolha implica em desdobramentos complexos.

Este é um “esqueleto” simples, mas se aplica a 99% das fábulas e a um número não muito diferente de histórias de fantasia em geral. Podemos adaptar tal esqueleto a contos como o da Chapeuzinho Vermelho (que escolhe a alternativa do caminho mais curto e mais perigoso) até histórias como a de Isildur e o Um Anel (que, corrompido, escolhe a alternativa de ficar com o artefato. O que acontece depois, todo nerd sabe).

Pense, antes de qualquer detalhe, no esqueleto de sua história. Não há problema nenhum em seguir um esquema simples como o deste exemplo, afinal, grandes histórias foram escritas assim. Mas é o primeiro ponto para quem está em busca da originalidade.

2) “Desconstrua” a Busca do Graal, a trama mais comum das histórias de fantasia. O “Graal” em questão não é o cálice da prima-história fantástica da literatura, mas sim o que você quiser que seja: um amuleto mágico, uma espada sagrada, o coração de um dragão, a princesa na torre etc. Os exemplos são péssimos, mas é justamente para ilustrar que tal ideia, usada de forma crua, já deixou de ser original há muito.

Um exemplo interessante de como descontruir isso está justamente em “O Senhor dos Anéis”. Frodo e Sam nada mais fazem do que seguir uma “busca do Graal” só que de forma invertida: não há objeto de desejo, e sim desejo de eliminação desse objeto.

Outro exemplo de desconstrução da “busca do Graal” é ‘Uma Canção de Gelo e Fogo’, que o cozinheiro Victor Hugo adora. Não há uma busca central, e sim diversos pequenos objetivos individuais que criam um mundo complexo. Em alguns casos, como o de John Snow nos dois primeiros livros, por exemplo, tal objetivo de busca nem ao menos está claro.

3) Crie personagens complexos. Isso significa que você irá suar e muito. Artur C. Clarke mostra, com os personagens planos de seus livros de ficção científica, que isso não é algo tão necessário para criar uma boa história mas, acredite, vale a pena! Quem não gosta de personagens como Conan (o da literatura, por favor), algumas bem trabalhadas versões de Merlin, o eloquente Sir John Cornwall e o recente-não-tão-recente-assim Tyrion Lannister? Personagens bem trabalhados elevam uma história que, por vezes, pode parecer comum.

Há muito o que se definir ao escrever sua história. Nem falamos aqui de gêneros da Fantasia, focos narrativos e outras definições que só poderiam chatear um escritor level 1. Mas é só um começo. A última dica é simplesmente acreditar naquilo que está escrevendo. Não pense se ficará rico, ou se o Blind Guardian irá gravar um CD com a temática que você criou. Respeite sua história. Se a primeira página foi escrita, sua obra merece ser terminada.

Thomaz Castilho, na Biblioteca Sagrada dos Livros Incompletos, especial para o Ao Sugo

Um comentário sobre “Um mundo fantástico… Inteiramente seu.

  1. Achei que esse texto tinha que estar vinculado a Taverna pra ajudar na construção de aventuras de RPG, bom me ajudou com isso…

    abraços

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