Como vocês já devem ter percebido eu e o Marcus estamos investindo até demais em artigos sobre fantasia e contos de fadas. Porém não é sem razão: temos notado que a grande maioria dos visitantes do Ao Sugo, inclusive aqueles que nos encontram pelo Google têm nos procurado justamente por artigos referentes ao tema “fantasia”, gênero artístico muito apreciado por mim e pelo Marcus, evidentemente. Mas hoje trarei a vocês um outro tema, não menos interessante e por muitos relegado ao canto mais obscuro e empoeirado das livrarias, a ficção científica. Este artigo tem justamente o objetivo de afastar o preconceito de muitas pessoas ao apanhar um destes livros nas mãos: se o leitor ficar interessado no gênero depois desta breve apresentação, terei feito o meu trabalho, rs.
Mas antes, o que vem a ser Ficção Científica? Em quais planos residem as diferenças entre a simples e pura ficção e a, tão aclamada por nós, “Ficção Científica”? Uma perguntinha “tostines”, óbvio, sabemos que ficção científica pertence ao gênero da Ficção, mas por que a diferenciamos? Bem, por pura e simples ficção não preciso me alongar muito: é a simulação, a imaginação. Dizem que nada, realidade virtual ou coisas do gênero, pode substituir a imaginação, algo que até hoje não compreendemos totalmente como funciona. Diriam alguns filósofos que vendo a imagem de um cavalo e a imagem das asas de um anjo, nada demais seria pensar num pégaso! A ficção seria algo criado como irreal, simulado, nunca existiu e talvez nunca vá existir.
Mas e Ficção Científica? Alguém sabe me explicar o que é isso? Bom, o “científico” do termo surgiu em fins do século XIX e início do século XX com a explosão das descobertas científicas: passamos a ter “velas” em casa que se acendem ao apertar um interruptor, passamos a tomar banho de água quente “na vertical”, o homem supera a gravidade e consegue alçar vôo num negócio que nomeia avião, balão… Descobrimos que somos todos feitos por moléculas, pior ainda, átomos! O raio X (engraçado o nome, que se mantém até os dias de hoje) possibilita explorar o interior do corpo humano sem precisar abri-lo! Ah sim, “fascinante”, diria Spock. A partir deste momento, extrapolar os conceitos da ciência no mundo da imaginação ganha terreno, surge a ficção científica.
Muito antes dos livros, das séries, dos filmes, dos gibis, dos cds, dos joguinhos, a ficção sempre se propagou pela maneira mais tradicional de transmissão de conhecimento: o “contar histórias”, a transmissão oral. Muito conveniente a abertura de Amazing Stories possuir logo nos seus primeiros segundos vários homens sentados em volta de uma fogueira contando histórias. Sabemos que J.R.Tolkien contou uma aventura fantástica de um ser pequenino chamado Bilbo Baggins na fantástica Terra Média para o seu filho antes de dormir, levando-o depois à criação de “O Hobbit”. “Alice no País das Maravilhas” também passou por experiência semelhante, quando L.Carrol contava a as aventuras de uma menina chamada Alice para sua melhor amiga, Alice Liddell! Migrando para os livros, foi através destes que a ficção científica ganhou universos inteiros, verossimilhança, se aproximou cada vez mais do real: não é porque Mara Jade Skywalker foi criada para os livros de Star Wars que ela é menos real neste universo que Luke Skywalker!
Com a invenção do cinema e da “fotografia em movimento” a ficção científica ganhou as telas e até hoje nos entretém pela televisão, a ponto de existir um canal de programas de ficção científica. Filmes, séries, minisséries, tudo agora nos traz as maravilhas dos livros de ficção científica com efeitos cada vez mais impressionantes, naves que singram parsecs e anos-luz no espaço sideral, seres de outros planetas que nos visitam constantemente, mutantes, tecnologias fantásticas, holodecks, cyberespaço… Assim termina todo bom livro de ficção científica, na tela?
É só passarmos pelas grandes livrarias e procurar por títulos recentes do gênero para descobrirmos que a resposta é não e, pelo contrário, os livros parecem pipocar como spin-offs das séries e filmes que passam na tv… Por quê?
Conhecidas como tie-in novels (que não pode em nenhuma instância ser traduzidas como novelizações, já que os conteúdos de ambos os tipos de publicação serem extremamente diferenciados), estes livros se baseiam em um universo já criado, seja pela televisão, seja por jogos de videogame, seja por histórias em quadrinhos, porém com novas aventuras, novas histórias, novos eventos que podem alterar este próprio universo. Mas por que a literatura sci fi atualmente alimenta esse tipo de publicação?
Os escritores concordam. Do mesmo modo que Whoopi Goldberg, a Guinan de A Nova Geração era fã de Jornada nas Estrelas desde pequena, muitos escritores entram em consenso ao dizer que se satisfazem ao trabalhar e desenvolver aventuras com seus personagens favoritos, já que os conhecem há mais de 20, 30 anos! A satisfação aumenta quando ganham a chance de poder elaborar e nos trazer mais detalhes que muitas vezes não estão nos episódios, como diz Vonda Mac.Intyre: “para Jornada nas Estrelas, me vejo produzindo linhas do tempo e longas racionalizações na história e sociologia dos romulanos!”
As limitações são óbvias e muitas vezes os editores “barram” aqui e acolá as versões em papel de histórias com seu universo favorito. Mesmo que Kevin J.Anderson diga que pode trabalhar o “interior” da mente de Scully e Mulder, algo impossível num episódio de TV, nós fãs jamais permitiríamos que Spock risse alegremente ou usasse expressões “estranhas” ao Spock que admiramos na televisão. Por outro lado, Anderson diz um dos motivos que fazem com que os escritores de hoje em dia trabalhem sobre universos criados pela televisão e cinema, a capacidade de usar e abusar da imaginação com personagens realmente familiares: “eu também tenho um estoque de ilimitados efeitos especiais, além de locações”.
Seja Anderson levando Scully e Mulder para a península de Yucatán, Dean Wesley Smith “brincando” com MIB, Susan Schwartz escrevendo sagas sobre vulcanos, os detalhes são imprescindíveis: simplesmente não dá pra lembrar de tudo! Hum, qual era o nome mesmo daquele alienígena que suga o sal das pessoas em Jornada nas Estrelas – A Série Clássica, ou por não falar no nome daquela lira vulcana? Tais detalhes interrompem obviamente a “produção literária” nesse sentido, já que um erro pode tirar toda a legitimidade do livro entre os zilhões de fãs em todo mundo. É neste momento que atuam os estúdios, dando “suporte técnico” aos escritores (que convenhamos, às vezes também falham: um descuido aqui e ali que alteram toda a linha de eventos do universo, deixando o livro “descartado” da timeline oficial…).
De um modo ou de outro, os livros estão aí, pockets, de jornal, capa-dura, em inglês, em português, em espanhol, em russo, não importa: sempre estão em algum canto escondido da livraria, conquistando um ou outro fã, apesar de toda essa migração de um formato para o outro, do livro para a televisão para o cinema e para o livro, muitas vezes parecendo mais um movimento que se fecha em um círculo do que um continuum em linha reta. Com uma retomada “generalizada” da Ficção Científica pelo cinema muitos até sugerem estar neste gênero o futuro da ficção, todavia, duvido muito que na literatura sci-fi veríamos um “próximo passo”, mas pelo contrário, um retorno às origens, ao conto das histórias fantásticas – ok, de modo mais “pé-no-chão”, condizente com nosso mundo moderno e talvez mais “racional” – mudando talvez as cores, o ambiente ou mesmo o modo de ver o mundo, mas sempre constituindo um filho da própria fantasia, esta que como você pôde perceber, têm sido retomada à exaustão tanto por mim quanto pelo Marcus na esperança de que possamos, nós e vocês, exercer – mais ainda – a imaginação.
Victor Hugo
Nota: O presente artigo se baseou também em vários apontamentos da revista norte-americana Sci-Fi Entertainment.
Olá, Victor e pessoal do Ao Sugo. Obrigado pela visita. Bem legal o blog, viu? Tá adicionado já. Abraços!
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLOOOKOOOOOO Vééééééio!!!! o texto té d+.. parabens!!!!!
Acho que eu sou suspeita para falar alguma coisa de ficção científica, neam? 🙂
Eu acho que o estilo anda meio amarrado à mesmice, especialmente nos cinemas e na televisão. Os assuntos sempre são viagens no tempo ou destruição do planeta. Podem ser clichês, mas quando bem trabalhados, temos ótimas obras.
Mas o que eu tenho visto tem me desanimado. Estava ansiosa por Prometheus e o que eu vi não foi nem um pouco estimulante. Achei Cargo (2009) muito mais interessante, mesmo com menos efeitos especiais e com um enredo bem menos grandioso que Prometheus. Acho que para pegar o grande público eles investem nos efeitos, mas deixam o enredo de lado e isso desagrada os fãs mais clássicos do gênero como eu, por exemplo.
É esperar para ver o que vai acontecer. 😀