E na virada do século George Lucas me lança Star Wars – Episódio 1. Está aí um filme que, para o bem ou para o mal, demorou para os fãs antigos engolir. Não que o filme seja ruim. A trilha sonora é excelente, tem uns bons personagens como Qui Gon Jin e Darth Maul, tem todo o jeitão de space opera com muita ação e tudo mais… só não tem muito a cara de Star Wars. O mesmo vale para a Nova Trilogia e não são só os fãs que comentaram a respeito de não parecer muito com Star Wars.
Bom, deixa pra lá. Tenho amigos que gostam da Nova Trilogia, amigos cuja opinião respeito muito, apesar das brincadeiras. Só sei que, pra mim, foi tão complexo ligar esses novos três filmes com os antigos que o Episódio II quase deixei de assistir no cinema. Blasfêmia.
Em 2003 estava assistindo a qualquer porcaria na televisão e, zapeando por entre tantos canais, deixei no Cartoon Network para assistir qualquer coisa genérica… De repente entra uma vinheta da LucasFilms e logo em seguida outra escrito “Clone Wars”. Percebi que a série era composta por episódios curtinhos (o que me fez perder alguma coisa na primeira vez em que vi), numa espécie de preparação para o “A Vingança dos Sith”, ainda a sair nos cinemas.
Demorei para ver esse seriado, coisa de 3 ou 4 anos atrás, dada a má impressão que tive dos novos filmes. Sentia nos novos filmes que tinha um apelo voltado para um público de geração diferente da minha (o que foi, na minha opinião, bem-sucedido), com várias pontas soltas e tantas outras amarradas que, em verdade, nem precisariam ser tão amarradas no final das contas. As “Guerras Clônicas”, comentada por Luke Skywalker e Obi Wan Kenobi em “Uma Nova Esperança” muito infelizmente não tinha sido contada a contento na trilogia mais nova, isso na minha opinião, lógico.
Os filmes buscaram focar nos relacionamentos entre Anakin Skywalker, Padmé, Obi Wan, todos muito jovens, deixando todo o contexto das guerras em si como segundo plano ou algo periférico, algo que na verdade era esperado pelos fãs por nada mais, nada menos que 25 anos. O número de planetas e cenários visitados aumentou muito (alguns dos quais nem aparecem na Trilogia Clássica), mas, tal qual o novo pseudo-filme do Conan (2011), pouco se retém de forma significativa ou, pior, entrelaçado com o que todo mundo já conhecia de Star Wars. A Força, concepção mística de uma energia que circunda todos, ganhou uma insossa e pobre explicação científica, entre tantas outras incongruências (e podem me xingar o quanto quiserem, o site é meu).
Clone Wars (2003-2005) é diferente. Bem diferente. Para atender à incrível demanda do merchandising de brinquedos, Lucas cogitou a possibilidade de fazer uma animação spin-off voltada para os mais jovens, tarefa que foi imediatamente colocada nas mãos do Cartoon Network, famoso canal de animação da Time Warner.
Gendy Tartakovsky, o criador de O Laboratório de Dexter e Samurai Jack, assumiu a responsabilidade de fortalecer o Universo Expandido daquele período, imprimindo em todos os episódios o seu estilo característico. Paul Rudish e Scott Wills ficaram com a concepção, sempre respeitando as orientações de Lucas… combinação de nerds fanáticos pela Trilogia Clássica de Star Wars!
O resultado foi excelente, nisso nem preciso me alongar. Seu estilo exagerado e puxado para o mangá rendeu à animação uma licença e liberdade poéticas imensamente grandes, o que conquistou tanto a molecada quanto os fãs mais velhos. A gente sabia que era tudo exagerado, mas era outro formato, tendo como função única contar uma narrativa de modo bastante claro, atraente e diferente.
Foi em “Clone Wars” que conhecemos o alcance da Força enquanto poder místico muito mais notável do que qualquer terror tecnológico, como já disse alguém… Mace Windu mostrou o tal do Force Push de forma que deixa os jedi na Nova Trilogia no chinelo… Pudemos ver o crescimento (de forma mais verossímil) e evolução do personagem de Anakin Skywalker, pudemos nos identificar com Obi Wan Kenobi enquanto figura paterna e célebre cavaleiro jedi.
Como a história deveria contar sobre o conflito entre o exército da República contra os Confederados, a trama principal se baseia em um grupo de “commandos”, um grupo pequeno de soldados de elite com especialidades distintas para auxiliar as incursões de Anakin e Obi Wan, trazendo a história das “Guerras Clônicas” para outra perspectiva, aliás, uma bastante interessante e empolgante.
Com fãs ardorosos de Star Wars por trás tivemos uma sucessão de 25 roteiros bastante interessantes e muitas vezes seguindo o mesmo espírito da Trilogia Clássica e do Universo Expandido, como os quadrinhos Dark Empire, lançado no Brasil pela Abril Jovem em tempos idos. Muitos fãs chegaram a dizer – e nem tiro a razão deles – que Star Wars é lindo quando não está nas mãos de Lucas.
De fato, ao contrário de pisar na própria obra, Tartakovzky, Rudish e Wills foram bastante respeitosos aos cânones que conquistaram e ainda conquistam os fãs por gerações. O re-rash ou transposição de frases e cenas clássicas dos filmes na animação deram ao telespectador a noção de que todo aquele desenho 2D, de episódios curtinhos e que passavam nos comerciais do CN, faziam parte de algo muito maior. Revisitamos Yavin, enfrentamos mais uma vez um planeta gelado como Hoth, tudo remetendo ao que os fãs já tinham como sólido.
Rudish e Tartakovzky comentaram nos extras que esta era justamente a intenção, de não só oferecer uma animação de qualidade com o selo Star Wars, mas que também fosse um cânone tão respeitável quanto os Timothy Zahns e Michael Stackpoles que a gente conheceu pelos livros do Universo Expandido.
Esse escopo épico em uma animação foi percebido e tão bem recebido por Lucas que, além de terem sido eles os responsáveis pelo texto de abertura do Episódio III (marcando, portanto, uma continuidade direta das animações com o terceiro filme), deixou a porta aberta para uma continuidade futura, a animação 3D “The Clone Wars”, a ser discutida em outro artigo.
Apesar de não ser muito afeito aos eventos narrados no período da República, ou seja, dos três primeiros filmes, a animação de Tartakovzky merece todo o meu e o seu respeito. Hoje encontrada em DVDs (facilitando e muito a vida de quem perdeu a sequência dos episódios quando foram exibidos na TV), é certamente uma animação indispensável para os fãs de Star Wars. Jogue fora aquele Droids, Caravana da Coragem e Star Wars Holiday Special, mas comprem esse “Clone Wars”. A série rendeu spin-offs em quadrinhos da Dark Horse Comics, todos também muito interessantes e que valem a pena. Que a Força esteja com vocês, Tartakovzky, Rudish e Wills.
Bob TK-984, Clone de Victor Hugo
Não sabia que a série era tão boa assim… vou assistir. Mas em que período ela acontece? É entre quais filmes?
abraços
Se passa exatamente entre o ep. 2 e 3 e faz uma ponte bem legal