Minha entrada no universo de Star Wars se deu por caminhos mais do que tortuosos. Ao contrário de boa parte dos fãs da trilogia original, não pude ver os três primeiros filmes no cinema… nem tinha nascido, eis a verdade. Para piorar a minha situação, me tornei um fã – ou fanboy – tardio. A história é nostálgica e certamente que vários leitores do Ao Sugo se identificarão com o que passei.
Era uma noite sombria e tempestuosa. Não, mentira, não aconteceu assim. Conheci Star Wars com meus 4 anos, assistindo a uma reprise ou outra que passava na televisão brasileira. Não me lembro em qual canal foi exibida a trilogia clássica. Naquelas noites eu apenas me lembro que havia muita movimentação aqui em casa, visitas que indiretamente não me deixaram prestar atenção aos filmes. Por conta disso, tudo o que conheci de Star Wars foi uma espécie de colcha de retalhos, com as impressões absurdamente equivocadas de Tauntauns em Tatooine, um Darth Vader com a cara do Han Solo que, na Estrela da Morte, tirou o capacete para o seu filho. Tudo errado.
Antes de realmente começar a gostar de Star Wars eu cheguei a ganhar uma TIE Interceptor do meu avô, da Glaslite, marrom… Era marrom porque a Glaslite não tinha o pigmento cinza para reproduzir os brinquedos norte-americanos… Nem culpo a empresa: o descaso com o pigmento correto era igual ao meu que largou o brinquedo por aí, até que nem sei onde foi parar. O que mais conhecia da franquia era o jogo para Nintendinho, sofrível, em que não sabia o que fazer com aquele maldito speeder em um deserto de Tatooine pixelado em 8 bits.
O sentimento – que nunca existiu – ficou adormecido por eras. Éons. Tudo até comprar o meu primeiro PC, na época o mais legalzinho… E foi bem tardio, confesso… Os computadores chegaram aqui em casa em 1996, o que não me arrependo nenhum pouco pelo atraso. Comprei um computador “branco” e nele vieram alguns CD-ROMs, na época o máximo de tecnologia. Destes CDs, um era uma versão demo do magnífico Fullthrottle que dividia espaço com o Star Wars Dark Forces. E aí a minha vida acabou. Acabou.
Dark Forces era um jogo inspirado em Doom, hit do momento e um dos primeiros FPS – First Person Shooter, aqueles em que você se vê em primeira pessoa atirando em todo mundo. Doom era legal, porém absurdamente violento e irreal. Primeiro que não importava saber o por quê de você estar atirando em um monte de gente. Segundo porque você atirava no pé do maluco e ele se explodia todo. Joguinho besta.
Olhem só que ironia do destino: quem me emprestou o CD-ROM com a versão completa de Dark Forces pela primeira vez foi o Marcus aqui… Dark Forces era bastante sofisticado para a época (1995/1996), com excelentes efeitos sonoros e a música em MIDI dos temas do John Williams, mas na verdade com muitas novidades do Clint Bajakian. A trilha sonora foi a primeira coisa que me fisgou, acionando memórias mega esquecidas em algum recôndito maluco do meu cérebro. Me lembro que os temas e a reprodução da trilha de Uma Nova Esperança mesmo em MIDI deixavam aquele jogo extremamente excitante para a época, mesmo não conhecendo ainda a dimensão e grandiosidade que era a franquia.
Já o visual, ahhh, o visual, isso foi o que detonou de vez com tudo. Os cenários faziam um re-rash dos principais interiores da trilogia clássica, como as paredes da Estrela da Morte na Base Imperial de Danuta, o estilão sinistro do Palácio do Jabba reproduzido em sua nave, a Star Jewel, os armamentos, equipamentos e várias coisinhas vistas nos filmes de relance que agora ganhavam nome… Esse tipo de coisa é alvo de muitas críticas minhas, contudo, em uma época de escassez de coisas relacionadas ao universo de Star Wars, esses re-rashes estavam na verdade consolidando muito do que conhecemos da franquia hoje.
Já os personagens que apareciam na tela me sugaram para o universo de Star Wars em tempo recorde… comecei a associar automaticamente as imagens com os filmes que nunca tinha visto direito, de modo que até hoje não sei explicar. De todos acredito ter sido os Stormtroopers aqueles que ativaram memórias e signos que considerava inexistentes ou dormentes, naquela imagem icônica branca e preta que representam. O próprio Jabba aparecia no jogo como holoprojeção, falando em Huttese com o protagonista… A abertura com o letreiro amarelo desaparecendo no espaço sideral… Eram muitas coisas que naquele momento estavam desconexas na minha mente, como que símbolos desconectados dos seus significados, imagens que eu reconhecia, mas não sabia com quem ou o quê relacionar… Foi uma sensação muito estranha, confesso. Foi amor à primeira vista.
Dark Forces tinha uma história. Eis uma das grandes diferenças desse jogo, trazer uma história que narrava eventos contemporâneos ao Uma Nova Esperança. O jogador entrava na pele de Kyle Katarn, um mercenário que estava trabalhando no momento para a Aliança Rebelde. A primeira missão (reproduzida aqui em vídeo) era nada mais nada menos do que recuperar os planos esquemáticos da Estrela da Morte, que seriam posteriormente entregues à Princesa Leia Organa no primeiro filme.
Katarn rapidamente virou uma estrela, até que Dark Forces foi o jogo para PC mais vendido entre 1995 quando foi lançado até 1999, quando foi substituído pelo Dark Forces II… O mercenário criado para a linha de games acabou sendo incorporado no Universo Expandido de Star Wars, reaparecendo em vários outros jogos (Star Wars – Dark Forces II: Jedi Knight, Star Wars – Jedi Academy, Star Wars Battlegrounds, Star Wars Empire at War…), quadrinhos, radio dramas, etc. Durante sua trajetória tão épica quanto à de um Luke Skywalker, Katarn se descobre em sintonia com a Força, sendo o novo herói da franquia por muitos e muitos anos.
Naquele ano eu consegui um VHS de O Império Contra-Ataca emprestado com uma amiga , em inglês e sem legendas. Apesar de ainda estar estudando inglês na época, assisti ao filme tantas e tantas vezes que aprendi o contexto todo da história. Vale lembrar que na época ainda não existia a Special Edition de 1997, nem DVDs e muito menos a Nova Trilogia, sendo um dos poucos produtos que alimentou o imaginário dos fãs durante todo aquele tempo (entre O Retorno de Jedi de 1983 até A Ameaça Fantasma, de 1999). Assim, os fãs já estavam mais do que bebendo no jogo como fonte de referência oficial de Star Wars. Aquilo tudo valia tal qual o apresentado nos filmes.
A história completa de Kyle Katarn virou uma famosa série em quadrinhos e Radio Dramas, já comentado aqui no Ao Sugo. Estes materiais finalmente colocavam o personagem dos games para outro nicho do Universo Expandido, até que muitas pessoas passaram a conhecer e reconhecer o mercenário como parte crucial de toda a história de Star Wars. Oras, foi ele quem roubou os primeiros planos da Estrela da Morte e assim salvou a Aliança Rebelde!
Foi Dark Forces que me levou aos três filmes em VHS. E foi assim que virei um fanático por Star Wars, até que hoje brincamos eu e o Marcus de que, enquanto ele virou um tolkieniano fervoroso, eu virei um maluco letrado em Star Wars e em seu Universo Expandido.
Desde então acompanho a franquia em seus altos e baixos, o que rememoro com grande felicidade. Os gráficos já não são tão bons quanto os de hoje (era tudo MS-DOS) e a trilha sonora em MIDI não chega aos pés das versões orquestradas dos jogos de hoje em dia, mas Dark Forces tem um quê especial, não só para mim, como também para vários amigos dessa minha geração que não puderam pegar Star Wars nos cinemas. Vá procurar o seu, afinal, como já disse Vader, “a Força corre forte em Katarn”.
Victor Hugo, soldado da Aliança Rebelde
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Como sempre, me diverti e aprendi com o post. Fazia tempo que eu não comentava aqui, mas tô sempre na área lendo vocês. A Força sempre me puxa para lado Ao Sugo.
Ahah,
Olá MissJoe! Tudo ok? Obrigado por nos acompanhar, gostamos muito. Em breve entra outro post sobre Star Wars (e do mesmo estilo desse aí), aguarde… rs
Que a Força esteja com você,
Victor Hugo