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Como quase todos sabem, o nerd é aquela pessoa que acaba ficando imersa em determinados assuntos – e às vezes dimensões e multiversos, mas para os mais afortunados (e não esse modismo imbecil que hoje assola a internet). Quanto à parte de ser um nerd gamer, sou notavelmente deficiente ou incompleto. Tive lá pelos idos da morta década de 1990 dois videogames com meu irmão, mas isso não foi pra frente como assim aconteceu com o próprio Marcus.
A coisa toda degringolou quando chegou o Dungeons & Dragons aqui em casa, o meu primeiro RPG. Tinha sacado que a minha parada mesmo era o RPG, não por poder fazer o seu próprio jogo (já que eu sempre preferi ser o Mestre), como também é e sempre será muito mais flexível do que meia dúzia de códigos de programação coloridos que ficam pirulitando na sua tela como heróis verdes em lutas marciais bastante improváveis.
Faz um tempo que o Marcus me convidou para conhecer o tal do MMORPG, o Massive Multiplayer Online Role Playing Game. Pois bem, me refiro aos jogos online que tentam imitar de maneira bastante duvidosa a atmosfera de um jogo de RPG. Me parecia indolor na época e pronto, criei lá alguns personagens e pude jogar um tempo (pouquíssimo tempo) suficiente para descobrir que estes jogos em si quase conseguem ser mais travados e limitados que aqueles que eu jogava na década de 1990. Não soube aproveitar nada e aí, batata, desinstalei tudo e fui viver a minha vida.
Neste ano eu retomei a minha incursão a um destes jogos, o World of Warcraft ou, como eu e o Marcus carinhosamente gostamos de chamar, o Mundo do Ofício da Guerra. Por convite do Paulo Sprovieri (que participou do episódio 9 da Rádio Ao Sugo), decidi mesmo como forma de entretenimento e para dar uma desanuviada dar um pulo no mundo de Azeroth em pleno Cataclisma, a terceira expansão da série.
Às vésperas de sua estreia em português após tanto tempo, World of Warcraft é um jogo online multiplayer que congrega vários jogadores assumindo papéis (porém não da mesma forma que nos RPGs, grave isso à ferro quente no seu cérebro) em um mundo de fantasia medieval bem ao gosto dos nerds, em especial, dos nerds que já passarem pelo Dungeons & Dragons e, o mais importante, não tem limites quanto ao uso IRREFREADO da imaginação.
No mundo fictício de Azeroth humanos, elfos noturnos, gnomos, draeneis, worgens, orcs, elfos sangrentos, renegados, taurens, trolls e goblins lutam pelas bandeiras da Aliança e Horda, buscando pela conquista dos territórios dos Reinos do Leste, Kalimdor, Terralém e Nortúndria a consolidação de ideais e culturas distintas. Chegando agora em português em 6 de dezembro próximo, mais jogadores da lusofonia terão a chance de integrar os vastos exércitos de ambas as facções.
Apesar de continuar jogando a versão americana do produto, ou seja, com todas as narrações e legendas em inglês, é mais do que bem vinda a completa tradução do jogo e de todo o suporte da Blizzard para o português, por duas razões basicamente. A primeira delas, e talvez a de maior repercussão em nível prático, é a de permitir a entrada de novos jogadores que não entendem inglês. Apesar de alguns saberem inglês em nível funcional, muitos não se sentem seguros em efetuar transações comerciais em inglês, como também ficar à mercê de todo um sistema em idioma estranho ao seu.
Já a segunda razão – e a que mais me interessa e me deixa feliz – é a questão de permitir aos jogadores lusófonos uma imersão no mundo de Azeroth em um nível diferente. Como já estamos cansados de falar aqui no Ao Sugo sobre tradução e versão de topônimos, oferecer um universo inteiro traduzido (basicamente “estrangeiro”, criado por autores de fora da lusofonia) é permitir que os leitores, telespectadores e jogadores adentrem naquela fantasia de modo mais profundo.
Como exemplo, temos a capital da Aliança, Stormwind, que foi traduzida como Ventobravo. Apesar de sabermos que a opção desta tradução não é literal (pois se fosse seria algo como Vento da Tempestade), “Ventobravo” soa como topônimo forte, imponente e invoca dois termos que nós lusófonos entendemos muito bem. A relação que tínhamos com o lugar em si, Stormwind, passa a ser ligeiramente diferente e, com isso, toda a nossa experiência passa a ser também ligeiramente diferente. Excelente, excelente.
A outra vantagem do lançamento de World of Warcraft em português é a eliminação de intermediários na compra do jogo e expansões, o que garante a diminuição substancial dos preços. Se até há pouco tempo era necessário um cartão de crédito internacional para efetuar as compras – e com isso passar por várias instâncias que só aumentam o valor agregado do negócio, a partir do dia 6 a coisa toda promete mudar. Mesmo com o lançamento em português estar previsto para o mês que vem, as taxas já estão mudando e caindo, como foi o meu caso: pude adquirir o jogo já em Reais e mais barato do que se tivesse importado.
Ainda sobre a chegada de World of Warcraft em português, devo elogiar o trabalho da Blizzard no suporte aos seus clientes. Tive que recorrer ao serviço de ajuda por poucas vezes e no primeiro contato redigi um longo email em inglês repleto de dúvidas. Além da incrível prestatividade, tamanha foi a minha surpresa ao receber a resposta em português. Além do suporte estar na minha língua, o site inteiro do jogo já está traduzido e operacional, o que deve ter demandado um trabalho fenomenal de uma equipe bastante grande.
O que de certo me ensinou a aproveitar World of Warcraft de maneira mais completa foi a imersão na ambientação e história do jogo, o que difere drasticamente dos jogos tradicionais que conhecemos dos videogames. Para poder oferecer um espaço aberto em mais de um continente (e acreditem, são mesmo enormes estes continentes), a produção se viu obrigada a criar toda a atmosfera e história de cada ponto.
Se uma fortaleza em Arathi está destruída, em algum ponto da história oficial do jogo você vai poder encontrar a razão daquele fato que, aliás, pode até ter sido causado por algum jogador aleatório que passou por aqueles cantos no passado com um grupo de aventureiros. Esta criação que não é nem a priori nem a posteriori, porém simultânea, faz com que o jogador sinta que seu personagem faz parte de algo muito maior. Apesar da escolha inicial do jogador por uma raça, classe e facção ser bastante automática e pouco informada, um jogador consciente de toda a ambientação acaba “curtindo” o jogo de maneira diferente.
Foi aí que o WOW me pegou. Como Mestre de RPG há 19 anos e, portanto, como fã incondicional de mundos fantasiosos, geniais e mirabolantes, foi apenas com a aprendizagem de parte da ambientação de Azeroth que finalmente me vi enredado na magia de Elune. Ao contrário do que muito se diz sobre estes jogos, meu interesse por World of Warcraft foi renovado pela maneira como ele pode te prender dentro e fora do jogo, seja com histórias em quadrinhos, livros e trilhas sonoras. Pretendo voltar posteriormente para trazer resenhas sobre alguns dos livros da série que li, resenhas que se voltam, portanto, não apenas aos jogadores de World of Warcraft, mas também para os fãs do gênero da Literatura Fantástica. Até lá, vida longa e próspera ao World of Warcraft em português!
Victor Hugo, Elfo Noturno Druida nível 64
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