Improbabilidade Infinita

Muito bem, Victor. Você acaba de ganhar 350 mil pontos de experiência.

Com essa nova pontuação, você finalmente conseguiu subir de nível.  Mas agora estamos começando a segunda parte da campanha e vamos mudar de mestre. Sabemos por fato que esse novo mestre é um grandessíssimo filho de uma meretriz e que ele sempre tenta matar todos os jogadores da mesa. Vamos relembrar o que aconteceu na última aventura:

Soubemos por uma mensagem interceptada por espiões bothanianos que Lorde Vader está deveras emputecido com você graças ao roubo de um carregamento de aspirinas pangaláticas e morfina vogon, que fariam com que ele esquecesse o fiasco da nova trilogia de Star Wars, que para sempre manchou a imagem do braço direito do imperador em um pirralho chorão e mostrou a quantidade absurda de cracas que tem debaixo daquele pinico preto e daqueles botõezinhos coloridos.

Muitos bothanianos morreram para que conseguíssemos essa informação. Mas isso aqui é guerra e em guerra só não morre soldado interpretado pelo Tom Hanks ou o Doutor Manhattan.  O roubo foi atribuído a você e um contrabandista chamado Han Solo, com seu copiloto, um cachorro gigante e fedorento.

Entretanto, rumores na Orla Exterior de um acontecimento cósmico e singular têm chegado diretamente aos ouvidos da Aliança Rebelde. O almirante Ackbar está correndo por todos os cantos da Galáxia berrando “It’s a trap”, então foi enviado um grupo de auxílio para verificar que troço é esse, porque ninguém aguenta mais esse filho da puta com cabeça de crustáceo resmungando pelos corredores. O único agrado dos tripulantes está sendo ver a jovem princesa Leia perambulando com um biquini dourado, dizendo que isso vai imortalizá-la para sempre no cinema. Que seja…

Com o grupo avançado, você conseguiu atingir a discrepância cósmica na Orla Exterior; ela é meio arroxeada e seu capitão perde as estribeiras e se atira lá diretamente, alegando a perseguição a um coelho branco e uma suposta garotinha loirinha com um vestido azul. Ele lembrara o quanto odeia azul e garotinhas loirinhas, mas conta-se que o coelho apenas lhe pareceu assaz suculento.

Ao entrar no buraco de minhoca, a nave em que vocês estavam passou por desagradáveis transformações. Em determinado momento você se viu às praias de nudismo em Ibiza, cujas voluptuosas visitantes eram aplaudidas entusiasticamente por um tal Cristo Redentor. Isso pouco antes de um delicioso chocolate quente feito com cacau da Nemédia ser-lhe roubado por um cara grande e de tanga que se dizia Conan, o cimério, visivelmente irritado por uma suposta imitação barata e emboiolada bronzeada e de cabelo laranja, um tal de He-man, que montava um gatinho verde. Pouco depois, uma bela pizza de pepperoni da Don Rafaelle era levada por um grupo de quatro tartarugas antropomórficas gritando “Santa Tartaruga”. Ninguém sabe exatamente o que isso significa, mas conta-se que, se descobríssemos o seu real sentido, o universo seria um lugar melhor.

Assustadoramente, você descobriu que apenas você sobreviveu à viagem. Seu capitão desapareceu em busca do Chapeleiro Maluco, enquanto o último registro do imediato era o de perder-se em devaneios ao visitar um site na internet chamado Ao Sugo (acessível pelo endereço aosugo.wordpress.com). No compartimento de carga, você encontrou duas pessoas, um cara de cabelo branco todo desgrenhado que escrevia uma carta para um moleque xexelento chamado Marty McFly, dizendo que estava vivendo feliz nos últimos 7 meses em 1885. Pobre imbecil. Ao seu lado, um rapaz esguio levantou e te cumprimentou, apresentando-se como Ford Prefect, pediu licença e agradeceu pela carona, sem deixar de mostrar-se indignado por você não estar com a sua toalha. Dizia ele estar a caminho de um planetinha insignificante chamado Terra, da qual os humanos eram a terceira raça mais inteligente do mundo, atrás dos ratos e dos golfinhos. Junto com ele, um sujeito de duas cabeças com cara de alcoolismo e excesso de filmes de Tim Burton, chamado Zaphod Beeblebrox, que dizem ser presidente do universo, atraía toda a atenção enquanto gritava “MAGRATHEA, MAGRATHEA!”. E um presidente, como sabemos, só serve para desviar a atenção do povo, mesmo.

Logo depois você foi contatado por Capitão Jean-Luc Picard; ele disse que você atendia aos mais altos e aceitáveis padrões de conduta da Frota Estelar. O que não faz o menor sentido, porque além de não saber, naquele momento, o que diabos é uma Frota Estelar, padrão de conduta aceitável todo mundo aqui sabe que você não tem. De qualquer maneira, como um reboot de uma antiga franquia nas mãos de um otário que criou uma série de um avião cheio de babacas que cai e os deixa perdidos numa ilha e fez milhões de espectadores de idiotas que acreditavam que tudo foi feito de propósito daquele jeito desde o começo da série, aqui a gente adora uma boa coincidência.

Você teve a desagradável sensação de que cada uma de suas miseráveis partículas foi dividida e passeou livremente pelo espaço. Pela articulação de… alguma coisa… você conseguiu ver sua antiga nave puxada pela gravidade de um planeta esquisito e todo cinzento; o mais esquisito era que a sua nave, enquanto caía, transformou-se em um vaso de flores; registros indicam que o único pensamento do vaso foi “De novo, não”.

Por um algum motivo obscuro, você apareceu dentro de um palanque cheio de luzinhas, quando um maluco careca lhe dizia que você estava a bordo da Enterprise e que você iria assumir o comando daquela banheira por ordem do almirante James Kirk. Sua confusão foi um pouco aliviada quando Picard disse que Kirk era um baguá de um só papel, e que ele estava largando esse troço para viver o maior telepata do mundo em uma franquia furada de mutantes idiotas. O cara todo enternado no canto deu um sorrisinho e disse só “A verdade está lá fora, mesmo”. Então tá…

Ao subir na ponte, você não resistiu em apertar um grande botão vermelho que dizia “NÃO APERTE” em letras ofuscantes. A nave respondeu imediatamente e em simpático tom de boas vindas: “Olá, amigão! Muito obrigado por ativar o gerador de improbabilidade infinita, tenha um bom dia!”. Aquilo te surpreendeu menos do que o esperado, afinal a improbabilidade infinita já parecia ter sido ativada desde o momento em que você ganhou a oportunidade de estudar no Japão por um ano.

Depois de um sentimento de orgasmo misturado com disenteria, dor de barriga e uma sensação que parecia seu cérebro espremido por duas fatias de limão, além um incômodo cuja mais óbvia definição seria “azul”, apareceu na sua mão esse treco aqui, um sabre de luz novinho, zero bala, uma arma elegante, para tempos mais civilizados. Também conhecido como “sossega, palhaço”. Logo em seguida, uma transmissão de um velho magrelo de orelhas pontudas apareceu na tela e disse “Fascinante”, seguido pela seguinte mensagem:

“Estas são as aventuras de Victor Hugo, cavaleiro Jedi, revisor do Guia do Mochileiro das Galáxias, co-autor e co-editor do site Ao Sugo com seu elegante comparsa Marquinhos e capitão da nave estelar Enterprise, em sua missão de explorar novos mundos, pesquisar novas vidas e novas civilizações, audaciosamente indo onde nenhum Kebbe jamais esteve.”

E se isso parecer um pouco esquisito, lembre-se dos dizeres da contracapa do Guia do Mochileiro das Galáxias, que traz impresso em letras garrafais e amigáveis a frase:

NÃO ENTRE EM PÂNICO

Marcus Vinicius Pilleggi

3 comentários sobre “Improbabilidade Infinita

  1. hahahaha!!Muito bom! Só não esperamos ver alguem fazer uma cara de quem está convertendo graus Celsius em Fahrenheit enquanto vê sua casa pegar fogo.

  2. Presenciei a leitura desse texto tão bem elaborado, e só posso dizer que ele realmente estava merecendo um lugar no blog… só vem para somar!!!!

    Mto bom!!!

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