As Tartarugas Ninja, a Mutação de um Fenômeno – Parte Um

Uma espécie mutante de tartarugas treinadas em artes marciais para serem guerreiros formidáveis. Pouca gente pensaria nisso. Em meados dos anos oitenta, entretanto, os jovens artistas Kevin Eastman e Peter Laird fizeram justamente o que pouca gente pensaria e desenvolveram as Teenage Mutant Ninja Turtles, que no Brasil ficariam conhecidas como As Tartarugas Ninja. Criadas nos anos 80, as Tartarugas Ninja nasceram de um projeto despretensioso, mas se tornaram um enorme fenômeno mundial. Era uma febre. As aventuras dos quatro irmãos tartarugas mutantes adolescentes e ninjas com nomes de artistas renascentistas italianos eram acompanhadas por uma legião de fanáticos.

O conceito apareceu em um rascunho de Eastman durante um brainstorming entre ele e o amigo Peter Laird em sua pequena editora, Mirage Studios. Na ocasião, Eastman desenhou uma tartaruga antropomórfica que empunhava um par de nunchakus. Sim, meus caros, a primeira tartaruga ninja foi, se fizermos um esforço, um rascunho do Michelangelo – na minha singela, porém crítica opinião, a mais legal de todas as tartarugas.

Com empréstimo de um tio de Eastman e um dinheiro de restituição tributária, os dois amigos lançaram uma única edição das Tartarugas. Mal sabiam que sua criação os transformaria em multimilionários. Em maio de 1984, em uma convenção de histórias em quadrinhos em Portsmouth, em New Hampshire, nos Estados Unidos, a revista Teenage Mutante Ninja Turtles estreou, publicada pela Mirage Studios. A edição era toda em preto e branco e limitada a três mil exemplares. A novidade, associada a uma competente campanha de marketing, fez com que o troço desse certo. A popularidade das aventuras das quatro exóticas criaturas cresceu tanto que, pouco depois, a dupla começou a ser procurada por agentes publicitários e empresários que queriam licenciar a ideia para outros produtos, como bonecos e desenhos.

Mas quem são as Tartarugas Ninja? Quais os principais personagens que ficaram conhecidos nesse universo maluco? Tracemos-lhes as personalidades numa penada:

Leonardo: nomeado a partir do inventor, pintor e blá blá blá Leonardo da Vinci, é o mais velho, o líder. Mais devotado ao estudo das artes marciais, usa uma faixa azul e empunha duas ninja-to. Leonardo é a ponte entre a inconsequência natural da juventude das Tartarugas e a seriedade do combate ao crime e da figura de Mestre Splinter, o sensei do grupo. Frequentemente, entra em conflito com Rafael;

Donatello: seu nome vem do escultor Donato di Niccoló di Betto Bardi, que também era conhecido por Donatello. Sua arma é o bo, ou bastão; é cientista e inventor, a mente mais técnica dos quatro irmãos. Usa uma faixa roxa e é o menos inclinado a cair na porrada;

Rafael: se Donatello é o menos inclinado a cair na porrada, Rafael certamente é o oposto. Equipado com dois sais (uma espécie de punhal) e com uma faixa vermelha, ele é o cabeça-quente dos irmãos. Um guerreiro extremamente competente, seu nome é inspirado pelo pintor e arquiteto Rafael Sanzio. Sem dúvidas, assume o posto de anti-herói, devido à natureza agressiva e comportamento questionável, embora sempre inclinado ao heroísmo. Rafael seria o Wolverine das Tartarugas Ninja;

Michelangelo: mais jovem dos quatro irmãos, a maior parte do alívio cômico é oriunda desse personagem. Empunha dois nunchakus e usa uma faixa alaranjada. Adora festas, rir e pizza. O mais divertido de Michelangelo é que ele surra a ratataia de criminosos enquanto dá risada; é o que tem o espírito mais livre dos quatro irmãos e, de certo modo, é o menos arquetípico dos principais personagens. Seu nome vem do pintor, escultor, poeta e arquiteto Michelangelo Buonarroti.

Com a popularização, outros personagens começaram a pipocar nas revistas e desenhos, falemos um pouco sobre eles:

Mestre Splinter: Um rato antropomórfico, Splinter é o mestre e pai adotivo do quarteto. Aprendeu artes marciais com seu dono e mestre humano, Hamato Yoshi. Hamato Yoshi era, na realidade, um exilado ex-membro do próprio Clã do Pé;

Destruidor: Arquiinimigo das Tartarugas, Destruidor é um mestre ninja e líder do Clã do Pé, o clã de ninjas genéricos que estão presentes em grande parte das aventuras do grupo. Destruidor raramente usa alguma arma, mas veste uma armadura repleta de lâminas para a batalha;

April O’Neil: em histórias mais antigas, April era uma programadora e assistente do cientista Baxter Stockman, que criou muitos dos robôs e máquinas que precisaram ser destruídos pelas Tartarugas. Mais tarde, a partir da primeira série animada da franquia, tornou-se uma telejornalista e é o maior contato do grupo com o mundo exterior. Ela também se tornaria o interesse amoroso do vigilante Casey Jones;

Casey Jones: um vagabundo vigilante que luta com bastões de baseball, tacos de hockey ou golfe e veste uma máscara de hockey para proteger a identidade. Entrou em contato com as Tartarugas depois de entrar em combate contra Rafael e ser vencido; torna-se um grande aliado do grupo;

Clã do Pé: O exército praticante de ninjutsu e magia negra, inspirado no clã ninja Tentáculo dos gibis do Demolidor (no original, esse clã chama-se Hand – “mão”). Na criação de Eastman e Laird, o Clã do Pé tem origens no próprio Japão Feudal e é o maior grupo de assassinos do país. Aparece quase sempre sob a liderança de Destruidor; no desenho de 1987 e em muitos dos jogos lançados para videogames, o Clã do Pé é formado por ninjas robóticos;

Krang: o bom e velho “chiclete mastigado”, apareceu na série animada e depois foi associado ao resto do universo. Veio da Dimensão X com seu exército, junto com o aparato de batalha mega tecnológico Tecnodromo, uma fortaleza móvel; sua forma é resultado de um acidente nunca explicado que fez com que perdesse o corpo. Fica no meio de uma armadura mecânica esquisita;

Beebop e Rocksteady: eram membros de gangue que faziam trabalhos para o Destruidor. Voluntariaram-se depois de tomarem uma sova das Tartarugas Ninja para serem experiência de Destruidor na formação de soldados mutantes, para que pudessem lutar contra os quatro irmãos de igual para igual. Também foram apresentados no desenho de 1987.

Depois do sucesso explosivo, Eastman e Laird começaram a produzir as edições das revistas das Tartarugas Ninja. Apenas meses depois da convenção de Portsmouth, exemplares da primeira e limitada edição da revista eram vendidas e revendidas por valores até 50 vezes mais altos do que o preço de capa. A série Teenage Mutant Ninja Turtles foi publicada de 1984 até 1993 e chamadas de Volume 1; comprimem 62 edições em preto e branco, salvo pelas capas. Aliás, uma curiosidade é que, no “começo de carreira”, as Tartarugas usavam faixas todas de mesma cor: vermelha. Enfim, contatados por fabricantes de brinquedos e publicitários, os artistas viram-se à frente de um fenômeno pop comercial. Em 1987, estreou a primeira série animada do desenho, que era veiculada pela CBS (no Brasil, o desenho foi exibido pela Rede Globo), que ficou no ar até 1996, com nove temporadas. Isso sem contar todo o batalhão de brinquedos que era lançado mês a mês. O desenho focava mais no lado humorístico das Tartarugas para angariar fãs de idades menores e, também, ajudar na venda de bonecos.

A ocupação com todo esse exército de novidades e lançamentos em diversas mídias fez com que Eastman e Laird não conseguissem acompanhar direito os gibis. Desde a edição 11, os dois não trabalhavam juntos e inteiramente na revista. Por consequência, as revistas começaram a ser escritas e desenhadas por artistas convidados. O problema é que, muitas vezes, isso gerava uma descontinuidade no enredo e garantiu, às publicações, um espírito de antologia. Em maio de 1987, a Mirage Studios lançou uma revista bimestral chamada Tales of the Teenage Mutant Ninja Turtles, comandada por Ryan Brown e Jim Lawson, para preencher as lacunas da revista principal e avalizar uma linha de continuidade mais canônica à história das Tartarugas. Para recuperar a continuidade na publicação principal, Eastman e Laird envolveram-se escrevendo e desenhando 13 edições, que consistem o arco de história City at War, feito em 13 partes e que encerrou o Volume 1. No Brasil, o sucesso do primeiro filme fez com que algumas dessas revistas fossem publicadas em um volume pela editora Nova Sampa em 1990, mas de forma desconexa e despreocupada com a continuidade, já prejudicada, da série. Atualmente, o Volume 1 pode ser encontrado em uma compilação razoavelmente competente da Devir.

O Volume 2 foi publicado de 1993 a 1995 e, desta vez, era uma revista totalmente em cores. Durou apenas 13 publicações. Uma queda de popularidade e nas vendas fez com que a série fosse cancelada. De 1996 a 1999, foi publicada a série que perfaz o Volume 3, desta vez sob o jugo da Image Comics, com 23 edições. Essa série é muito mais voltada para a ação e também é feita totalmente em preto e branco. Também é desse Volume 3 algumas bizarrices como Rafael tendo o rosto deformado por cicatrizes, Leonardo perdendo a mão e Donatello virando um ciborgue. Sim, um ciborgue. Essa série foi desconsiderada pelos próprios criadores porque, segundo eles, não tinha o espírito das Tartarugas.

Em dezembro de 2001, iniciou-se a série que consiste no Volume 4 e que continua até hoje. A revista é chamada apenas TMNT (abreviação de Teenage Mutant Ninja Turtles). A série é bimestral e omite os eventos do Volume 3, recuperando o arco de histórias que parou anos antes, no final do Volume 2. A diferença essencial é que o Volume 4 continua a história 15 anos a frente de onde parou no Volume 2, com as Tartarugas tendo por volta de 30 anos e ainda vivendo no esgoto de Nova York. Em muitos aspectos, a série trata de temas um pouco mais maduros do que os Volumes anteriores.

No Brasil, essas histórias em quadrinhos mal chegaram e, quando chegaram, o fizeram de forma bastante desconexa. Sem importação, não vale a pena ir atrás desse material por aqui.

Na próxima parte, falarei um pouco sobre os longas feitos das Tartarugas Ninja. Quem quiser saber um pouco mais pode ouvir o programa Nerdcast no 58, no site Jovem Nerd.

Aguardem a parte 2…

Marcus Vinícius Pilleggi

9 comentários sobre “As Tartarugas Ninja, a Mutação de um Fenômeno – Parte Um

  1. Santa Tartaruga!
    Excelente junção de informações… Fazia tempos que eu não recebia uma boa carga de nostalgia como esta.
    As tartarugas são uma idéia quase inconcebível, felizmente os autores contavam com uma genialidade ímpar, que possibilitou uma idéia completamente estranha fazer tanto sucesso.

  2. COWABANGA!

    Excelente apanhado de informações – e em todos esses anos eu achava que as tartarugas vieram dos desenhos. Shame on me!

    Passava horas e horas no jogo arcade dos anos 90 – alguém se lembra? -, passava mais horas ainda jogando as versões de Nintendo e SNES, assisti aos filmes todos e, é claro, não perdia um episódio do desenho.

    Uma ideia despretensiosa que virou um sucesso estrondoso – um exemplo para todos nós.

  3. CARAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAACAAAAA… eiu ja falei… esse blog é D+!!! manoooo to de cabelo em pé com esse post!! Vocês estão de parabens…. sério mesmo.. isso fez parte da minha infancia… assistia eles direto.. e jgoo os games deles em mulador até hoje… Pow vocs fizeram A apresentaçao dos personagens…. vo até parar de escrever e ler tudo novamente… mas pretendo copiar nosso amigo Michelangelo… acompanhado de uma boa pizza…. FORÇA DE TARTARUGA!!!!!

  4. Só aceito calma so Splinter verdadeiro… as cópias nao tem direto à fala… ainda mais um EXplinter….rs… []s ae amigao!

  5. Muito bom o artigo! Vocês estão de parabéns pelo blog =D

    Nunca tive oportunidade de ler alguma HQ das TMNT mas tenho grande curiosidade. O desenho da década de 80 era demais pena que é extremamente difícil achar hoje em dia =\

    PS: a tartaruga mais cool é o Rafael 😛

    1. Thanx pelos elogios, Kedraroth. E isso eu posso falar pelo Marcus também, rs.

      Já gostaria de adiantar que vem mais coisa sobre TMNT no Ao Sugo muito em breve, então gostaria de fazer o convite de ficar sempre de olho por estas bandas. No mais, espero que se divirta com a leitura.

      Bons sonhos,

      Victor Hugo
      PS.: Rafael? Ahhh, Michelangelo hein? rs

  6. Nossa, muita nostalgia.

    Eu tinha muito pouco conhecimento sobre os quadrinhos, mas o desenho, os filmes e o jogo de video-game fizeram parte de toda minha infância.

    Texto ótimo, e espero ansiosa a segunda parte sobre os filmes ^^

    Eu tinha uma fita cassete que ñ saia do vídeo com os dois primeiros filmes, e a coitada era rebobinada umas 3 vezes por dia hahahaha

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