Chuva com Jazz Fusion

Está caindo um pé d’água lá fora enquanto dedico meu fim de sábado aos meus álbuns de jazz. Eu bem que desconfiava. Me desculpem os leitores mais entendidos de Jazz Fusion que lêem o Ao Sugo, mas sabia que The Manhattan Project tinha um pé no Weather Report, agora entendi tudo, agora entendi as virtuoses e o som esotérico fazem dos dois álbuns tão fantásticos e, não sabia, tão próximos.

Ah sim, o quê que eu to falando? Estou falando de Jazz Fusion. Jazz Fusion é uma vertente contemporânea do Jazz que mistura R&B, Funk, ska, música eletrônica, world music e às vezes um toque de rock, a quem atribuem como pai, ele, aham, Miles Davis. O Miles Davis merece outro artigo só para ele, outra coluna, outro blog, outra rede de tanto que aquele cara produziu – para o bem ou mal – do jazz contemporâneo.

O Jazz Fusion começou na década de 60 nos Estados Unidos que, naquela época, só tinha gente de outro planeta, o naipe sempre foi absurdamente impressionante. A partir desta década você não poderia se surpreender se achasse Miles Davis tocando seu trumpete junto com Herbie Hancock, Ron Carter, Wayne Shorter, um pouco de George Benson aqui, um pouco de Chick Corea ali, uma bomba rítmica e instrumental que mudaria o jazz para sempre.

Adoro o jazz tradicional, adoro me pegar ouvindo Billie Holliday num momento de paz, adoro escutar Thelonious Monk no piano ou, até mesmo para chutar o balde, escutar o violão de Django Reinhardt ou Stephane Grappelli tocando Stardust, não tem coisa melhor. Mas o Miles Davis chegou chutando tudo pro alto. E podem xingar o quanto quiserem senhores puristas (é, esse Brasil está cheio deles e, pior ainda, puristas que não sabem nem localizar o dó central num piano), mas ele mudou tudo criando o seu Jazz Fusion, havia levado com ele o jazz para novo patamar. Não, nem digo mais elevado, superior, digo apenas um outro patamar, achando ser impossível hierarquizar qual é o melhor ou pior disso tudo. E o Jazz Fusion chegou, muito obrigado.

E pois bem, um dos meus álbuns favoritos de todos os tempos é, com certeza, The Manhattan Project, um disco de 1989 que reuniu literalmente um time de primeira: Wayne Shorter, Michel Petrucciani, Stanley Clarke, Lenny White, Gil Goldstein e Pete Levin. Com os arranjos de Lenny White e Gil Goldstein neste álbum é possível contemplar (olha que palavra bonita) a simbiose artística de Wayne Shorter no sax, o incrível e falecido Michel Petrucciani no piano e Stanley Clarke no baixo.

E há tempos, ouvindo a rádio Jazz Fusion da AOL (pois é, já comentei isso em outro artigo aqui no Ao Sugo, nunca fui de ouvir rádio até conhecer a rádio AOL dada a sua qualidade de som e seleção de músicas), conheci o Weather Report, um grupo de Jazz Fusion conhecido das décadas de 70 e 80. É, enrolei para conhecer melhor o grupo, isso foi até aparecer aqui em casa o álbum Black Market e ouvindo suas músicas, foi muito simples. Aquele som etéreo eu já conhecia, aquele sax só poderia ser do Wayne Shorter. Senhoras e senhores, batata.

Do álbum, destaco Herandnu, a faixa de número 7, composta por Alphonso Johnson (o baixista que seguiu de perto Stanley Clarke e acompanhou por um tempo nada mais, nada menos que o baterista Billy Cobham; e detalhe, nesta faixa ele toca sua composição no lugar de um dos outros baixistas do grupo, quem? O lendário Jaco Pastorius…). Junto com ele e Shorter temos Joe Zawinul, o pianista do Fender Rhodes que inventou com o Miles Davis o tal do Jazz Fusion, é mole?

Pois é, essa é a sua chance de ir atrás e conhecer o Weather Report. Se quer começar direito, procure pelo primeiro álbum do grupo, Weather Report, de 1971. E se você já quiser ouvir o Wayne Shorter mais velho, mais experiente e mais do que excepcional, procure pelo The Manhattan Project de 1989. Escute a Nefertiti desse álbum e você vai entender por quê. Caso ainda goste da aleatoriedade, visite a rádio Jazz Fusion da AOL, lá você encontra todo esse povo que eu falei aqui e, com sorte, já pega Weather Report quando você entrar no site. E nesse ínterim, que caia a chuva.

Victor Hugo

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