Sociedade da Informação. Este é o nome desta situaçãozinha em que nos encontramos, que valoriza o saber e a informação como forma de acesso ao poder. É nessa sociedade que se verifica o estado das transformações midiáticas atuais, decorrentes, do grande avanço tecnológico nas técnicas de produção e reprodução de informações e na revolução da sociedade. É o início do surgimento daquela “nova mídia”, que traz uma interface bastante diferente da mídia tradicional, já que preza pela interatividade entre o produtor e o consumidor da informação. Isso aí garantiria certa liberdade do consumidor em escolher as informações que necessita ou prefere, que por sua vez precede uma noção de maior controle por parte do consumidor. Expande muito a gama de recursos disponíveis. Dizem.
Este ideário de edição própria se reflete na popular mídia da Internet, sendo um dos grandes fenômenos, sem dúvida, o blog, que é essencialmente uma espécie de diário eletrônico (a gente não, o Ao Sugo não é um diário). Inserido no ambiente supostamente democrático da internet, o blog se propõe a ser um espaço na grande massa informacional da rede para manifestação pessoal de alguma coisa. O que quer que a “coisa” seja. Podem ser crônicas, notícias ou simplesmente textos literários. Geralmente a qualidade do que você encontra é bastante questionável; poucos são como o Ao Sugo. Sendo de serviço gratuito e dependendo, em tese, apenas do autor (ou dono), o blog poderia ser considerado um meio de comunicação alternativa, mas em verdade acaba não sendo. Evidente que muitos blogs acabam se transformando em estandartes da contra-informação, mas a constante apropriação dos fenômenos contra-culturais pelos grandes conglomerados tem também engolido o fenômeno “blogueiro”.
Lembremos dum dos mais célebres eventos da contra-cultura do século XX, o Woodstock, de 1969. Ali se contestava a formalidade, a caretice e as convenções familiares ao som de Jimi Hendrix, The Who, Jefferson Airplane, Joe Cocker e Janis Joplin, entre outros. Os jovens que ali se divertiam na chuva e na lama sob a premissa da paz e do amor, e protestavam em favor de sua ideologia através do rock n’ roll. Pois bem, passaram-se 30 anos até os valores consumistas se apossarem do nome Woodstock e promoverem uma nova edição em 1999, em nada parecido com o original, com sua lama artificial e garrafas d’água vendidas aos U$12, destinada a uma juventude alienada, sem valores, passiva e boçal que não tem ou não sabe do que reclamar. O resultado foi delicioso para o conservadorismo, que viu justificado o pré-conceito dos shows de rock através de um espetáculo pirotécnico de vandalismo.
A comunicação alternativa dos blogs, assim como a democracia da internet, é cada vez mais esmagada a partir de seu engolfamento pelos conglomerados midiáticos da Sociedade da Informação e da nova mídia. Evidentemente que ainda existem inúmeros exemplos dos blogs contra-informacionais, mas agências de notícias e empresas de mídia já adotaram e estão comprando, literalmente, os espaços supostamente pessoais e libertários dos blogs, alguns tendo até seus editores e escritores. Não que isso vá necessariamente comprometer o conteúdo do espaço em questão, mas chega a ser irônico que um artefato que inicialmente seria antitético pode acabar tombando ao domínio de outrem.
Não querendo ter uma visão pessimista dos destinos acerca dos blogs, mas assim como o Woodstock e o Rock n’ roll antes deles, estas ideologias estão sendo assimiladas e revendidas, como tantas outras. Mesmo como vender um espaço na rede para que se tenha seu “próprio espaço”, livre enquanto obedecer às normas e padrões pré-estabelecidos. O fenômeno dos blogs está se transformando no novo Woodstock, numa marca, num “Blogstock’99”.
Marcus Vinicius Pilleggi