A nova trilogia de Star Wars, iniciada pelo Episódio VII – O Despertar da Força, teve uma série de surpresas e motivou muita discussão. Entre as mais acaloradas revolve-se em um dos novos vilões, Kylo Ren. O personagem mascarado já causava alguma comoção nos trailers e, com o lançamento do filme, fãs dividiram-se entre aqueles que o acharam interessante e aqueles que o viam como um mero arremedo de Darth Vader. Mas, afinal, quem é Kylo Ren?

Spoilers à frente; esteja avisado.

Kylo Ren é filho de Han Solo e de Leia Organa. Batizado como Ben Solo (numa referência, talvez, ao Ben Skywalker, filho de Luke no antigo Universo Expandido, agora Legends), Kylo Ren tinha um notável talento na Força e, por isso, foi treinar com Luke Skywalker, junto com outros que formariam uma nova geração de jedi.

Ren, entretanto, foi tentado pelo Líder Supremo Snoke, tombou para o lado negro e destruiu o novo sonho de Luke de trazer os jedi de volta efetivamente. A desilusão fez o tio sumir e Ren fugiu de seus pais e juntou-se à Primeira Ordem. E, assim como Moff Tarkin e Darth Vader no Episódio IV – Uma Nova Esperança, os opostos entre o militar e o líder “religioso” da Primeira Ordem estão nas figuras de General Hux e Kylo Ren em O Despertar da Força.

Somos apresentados a um Kylo Ren talentosíssimo na manipulação da Força e com um sabre-de-luz exótico, para dizer o mínimo, logo no início, quando vai em busca de Poe Dameron e do mapa para Luke Skywalker. Ele é poderosos e tem postura de vilão, e a cena em que para o tiro do blaster de Dameron é uma das melhores do uso da Força em toda a saga. Ali, vemos que Kylo é um vilão a ser temido por seus métodos frios e diretos, sem rodeios.

Só que, ao contrário de Darth Vader, vemos que Kylo Ren está bem longe de ser um personagem totalmente montado, mesmo que, à primeira vista, a impressão seja essa. O filho de Han e Leia ainda mostra-se preocupado com a “tentação da Luz”, com a obrigação de fazer o bem e entender quem é sua família; o contrário da comum tentação da escuridão.

Muitos reclamaram que o personagem de Kylo Ren enfraquece quando tira seu capacete e mostra seu rosto verdadeiro, dizendo que isso destruiu o personagem e o enfraqueceu. Acontece que Kylo Ren é fraco; ele quer ser Darth Vader, mas não consegue, quer se mostrar superpoderoso, mas não consegue. A revelação do rosto de Kylo Ren, ainda pueril e tolo, quase inocente, mostra o despreparo do jovem inebriado com o próprio poder e ainda conflituoso.

Esse mesmo jovem conflituoso que, na cena em que mata o próprio pai, mostra-se completamente inseguro. Quando diz que sabe o que deve fazer, mas não tem coragem de fazê-lo, refere-se ao ato de assassínio, já vislumbrado, porém com árduo esforço levado à frente. É o passo final de Kylo Ren para o lado negro. Após a morte do pai, ele se mostra mais passional do que nunca, o que causa inclusive sua derrota momentânea. Essa queda ao lado negro foi mostrada belamente com a luz desaparecendo com o sol sugado pela base Starkiller, e selou de vez o destino do rapaz.

Portanto, quando dizem que o vilão enfraquece ao mostrar sua face verdadeira, creio ser justamente a intenção. Mostrar que esse “Darth Vader-wannabe” ainda não é nada além disso – e nem será nada além disso até que saia da sombra do avô. O roteiro podia preocupar-se um pouco mais em mostrar a bondade, a luz que há nele, já que a ideia é essa, entretanto isso não atrapalha o desenvolvimento do roteiro.

O desequilíbrio de Kylo Ren tem potencial para uma das mais interessantes subtramas da nova trilogia. Sua máscara é amassada e castigada, seu sabre é todo errado (porque o cristal interno está quebrado) e seu espírito também está dividido e conflituoso. Tirar a máscara tira a frieza de Kylo Ren e lhe dá uma face real, passional. Um tolo, realmente, ainda um jovem embebedado pelo poder que desenvolveu.

Kylo Ren está longe de ser um personagem completo. E é esse, justamente, o seu charme como vilão.

Mestre Jedi Marcus Vinicius Pilleggi